Memórias impressas conservam um século de História

O Arquivo Distrital de Leiria, fundado em 1916, é casa de centenas de coleções e fundos documentais que fazem parte da História da região. Lá dentro, os jornais e revistas da imprensa local e regional encontram um espaço especial onde são protagonistas: a Hemeroteca. Este depósito permite a consulta de jornais do distrito a partir do ano de 1854.

Passando entre ruas antigas e estreitas com chão de calçada, em Leiria, a poucos minutos do castelo, encontramos um edifício alto de arquitetura linear de tijoleira, rodeado por vidros grandes que permitem a entrada de luz natural no edifício. O Arquivo Distrital de Leiria, anterior Biblioteca Erudita, foi fundado a 3 de agosto de 1916 por Tito Larcher. Atualmente, constitui um serviço público de âmbito local e regional, que “procura, principalmente, promover a preservação, valorização, divulgação e o acesso ao património arquivístico do distrito de Leiria, garantindo os direitos do Estado e dos cidadãos”, como explica a responsável Paula Cândido. Serve, deste modo, de recurso probatório e informativo acerca da atividade administrativa, bem como o papel de guardião da memória coletiva e individual do distrito.

As paredes do edifício armazenam muitas informações, memórias e histórias. Paula Cândido explica que o património arquivístico é, atualmente, “constituído por 323 fundos e coleções, produzidas por entidades públicas e privadas, organizações ou por indivíduos”. Os interessados podem consultar estes documentos através de índices, inventários e catálogos impressos, presencialmente por agendamento, através da utilização do portal online DigitArq, catálogos online, pedidos por email ou consultados através da página oficial, dividida por fundos e coleções.

O interior do edifício é alto e constituído por diversos corredores e andares, possíveis de alcançar tanto pelas escadas como pelo elevador decorado por antiguidades, onde se encontram inúmeros depósitos relativos aos fundos e coleções. Ao entrar, a receção é feita no balcão principal, onde o visitante deve identificar-se e justificar o motivo da sua presença, para que seja feito um agendamento ou seja encaminhado para a devida sala. Neste espaço pode consultar-se documentação de paróquias, como registos de casamentos e batizados, de registo civil, que conta com registos de nascimento e certidões de óbito, de confrarias e irmandades, de empresas, de associações, de famílias, de jornais e até ficheiros pessoais ou notariais e judiciais, em que se incluem juízos de paz. Alguns desses registos encontram-se conservados de tal forma que, por exemplo, nos mais antigos, ainda é possível sentir os pelos dos animais utilizados em capas feitas em pele, neste caso mal raspada.

A principal missão do Arquivo Distrital de Leiria é preservar e valorizar o património arquivístico de interesse histórico da região, apoiar tecnicamente a organização de arquivos públicos e privados e promover a divulgação cultural e educativa dos arquivos. Além disso, compromete-se a ajudar na concretização das necessidades informativas do cidadão, o que implica manter a informação acessível. Para tal, os profissionais da informação carregam, de forma responsável, uma grande quantidade de conteúdos informativos em linha. Desta forma, é cumprida outra das funções essenciais do Arquivo, “disponibilizar os documentos ao cidadão, para efeitos de concretização pessoal e/ou profissional”, como indica a responsável.

Pilha de livros encapados a castanho e detalhes dourados.

A criação da Hemeroteca
No último andar encontra-se um corredor, reservado a pessoal autorizado, que dá acesso à Hemeroteca. Trata-se de um dos depósitos do arquivo, criado ao mesmo tempo que o Arquivo Distrital de Leiria, em 1916, “fruto da história da instituição”, segundo a responsável Paula Cândido.

Na Hemeroteca estão disponíveis diversos jornais provenientes de várias regiões do distrito de Leiria, nomeadamente Alcobaça, Alvaiázere, Caldas da Rainha, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Marinha Grande, Nazaré, Pedrógão Grande e Pombal. Na coleção de registos de imprensa destacam-se títulos históricos como O Leiriense, datado de 1 de julho de 1854 e o mais antigo dos jornais regionais, além de O Distrito de Leiria, de 27 de outubro de 1890. No total, a Hemeroteca dispõe de 139 títulos, desde 1854 até à atualidade, recebendo semanalmente novos títulos.

Os jornais encontram-se arrumados em pilha, protegidos por uma capa, em prateleiras metálicas, divididas por regiões do distrito. Com uma cor amarelada, devido à sua condição antiga, ainda é possível ler nitidamente o conteúdo sem precisar de grande esforço, bem como visualizar as imagens neles contidas.

Segundo Paula Cândido, “os jornais chegam ao Arquivo por oferta ou por via de depósito legal, sofrendo depois um processo de descrição e organização por anos e regiões” para tornar mais fácil a sua procura, aquando da sua requisição.

Tal como aos demais depósitos do Arquivo Distrital de Leiria, todos os cidadãos podem ter acesso aos títulos disponíveis na Hemeroteca, presencialmente ou online. Presencialmente, é possível lê-los de forma gratuita, numa sala de leitura silenciosa, que se deve manter fechada, com um ambiente idêntico ao de uma biblioteca. Trata-se de um espaço dedicado ao estudo e investigação pessoal ou profissional, cujo ambiente deve convidar à concentração.

“A grande diferença é que numa biblioteca retiram-se os livros das prateleiras e aqui os documentos a requisitar são pedidos e deixados na sala de leitura “, acrescenta a responsável. Existem, assim, diversas regras e cuidados a ter aquando da requisição dos materiais do Arquivo para a sala de leitura, nomeadamente as proibições de escrever, sublinhar, anotar ou fazer decalques sobre a documentação em consulta, dobrar folhas, forçar as encadernações ou praticar outros atos prejudiciais à preservação das espécies. Quaisquer danos observáveis devem ser reportados a alguém presente no edifício.

Também é possível consultar alguns destes títulos online, através do site oficial do Arquivo Distrital de Leiria, na secção da Hemeroteca. “Está em curso a digitalização de outros títulos, que contamos até ao final do corrente ano disponibilizar ao público em geral”, refere Paula Cândido. Neste processo atingem-se dois objetivos fundamentais: dar acesso à informação e preservar os jornais, dada a peculiar fragilidade do suporte. Os serviços de impressão e digitalização dos jornais estão disponíveis mediante o pagamento de valores estabelecidos na tabela de preços.

O Arquivo Distrital de Leiria não guarda apenas documentos. Ali, em versão presencial ou digital, pode começar, também, uma viagem no tempo, cujo bilhete é gratuito e está acessível a todos.

Texto e fotos: Ana Pinto | Débora Pacheco | Inês Quintas | Marisa Carreira