A importância da luz fora dos ecrãs
Nos dias de hoje muitas são as preocupações que assombram pais e filhos e o cenário de pandemia não só veio acentuar essas inquietações, como trouxe à tona estados de ansiedade antigos.
Numa época em que a vida acontece em poucas dezenas de metros quadrados é fundamental adotar
medidas que promovam uma adequada higiene do sono, como por exemplo a suspensão de qualquer
dispositivo emissor de luz uma hora antes de dormir. Teresa Rebelo Pinto esclarece que “estar exposto a luz direta, sobretudo antes de ir dormir, significa dizer ao cérebro que é hora de despertar, quando é exatamente o oposto que se pretende”. “O consumo digital é um estímulo visual, cognitivo e emocional, que pressupõe uma enorme estimulação cerebral, e que, tal como discussões ou o exercício físico, deve ser evitada com o aproximar da hora de deitar”, acrescenta a psicóloga.
No entanto, os dispositivos eletrónicos são essenciais e uma significativa parte da vida, como a conhecemos hoje, depende destes equipamentos, seja para acompanhar aulas à distância, promover reuniões através das diversas plataformas digitais, realizar trabalhos de grupo ou assistir a filmes. “O problema surge quando há falta de controlo e regra”, remata a psicóloga.
As perturbações do sono afetam entre 25 a 40% das crianças e estima-se que um terço dos adultos não durma as horas indicadas. Se a privação de sono nas crianças acompanha um estado de agitação, nos mais velhos verifica-se, pelo contrário, um predomínio de sonolência. Aqui se cruzam realidades opostas e, por vezes, difíceis de conciliar.
Sofia Rebocho é técnica de neurofisiologia e realça que, apesar da consciencialização generalizada para a necessidade de dormir bem, “ainda há muito trabalho que precisa de ser feito na área da educação do sono, uma área tão importante como a educação alimentar ou o exercício físico”.
Os sinais de alerta são, em certos casos, desvalorizados ou incompreendidos pelos pais. “O estado de
inquietação das crianças é muitas vezes associado a hiperatividade ou baixa autoestima, quando na verdade a base do problema é o sono”, afirma Teresa Rebelo Pinto, à qual chegam pedidos de ajuda de todas as faixas etárias.
O SAPE, Serviço de Apoio ao Estudante do Politécnico de Leiria, conta com 13 anos de consultas gratuitas e regista um aumento significativo de pedidos de ajuda, sobretudo desde o início da pandemia. Patrícia Pereira, psicóloga do gabinete, confirma que “os estados de ansiedade acompanhados de perturbações de humor dificultam o processo de «limpeza» do cérebro, que ocorre enquanto se dorme, o que provoca a sensação de cansaço ao acordar, uma vez que o sono não é retemperador”.
Os estudantes são um grupo de especial destaque. Épocas de exames extenuantes e o aproximar dos prazos de submissão de trabalhos, aliados a alguma desmotivação face ao novo modelo de aprendizagem, levam alguns alunos a ficar acordados até mais tarde.
Ainda que o tempo escasseie, Teresa Rebelo Pinto assegura que “não compensa fazer noitadas antes dos exames”. “O cérebro em privação de sono toma más decisões e não está capaz de funcionar, nem do ponto de vista cognitivo, nem ao nível emocional”, esclarece a especialista.
A ciência reforça a importância de dormir de noite, sempre que possível, já que, mesmo dormindo a mesma quantidade de horas de dia, a qualidade não será igual à do período noturno, onde o ruído e a luz estão ausentes.
Biologicamente, o nosso organismo está preparado para dormir de noite e estar ativo enquanto há luz solar. A luminosidade da manhã é de facto fundamental e mostra ter um papel importante na regulação dos ritmos circadianos. “No entanto, os jovens têm alguma tendência para inverter os horários de sono ou iniciar o período de descanso muito tarde, acordando já no fim da manhã, o que faz com que o período de exposição solar seja reduzido ou até inexistente”, conclui a profissional do Politécnico de Leiria, destacando ainda a importância de manter uma rotina de deitar e levantar às mesmas horas.