O Museu da Imagem em Movimento (m|i|mo) recebeu, entre 18 de maio e 31 de outubro, a exposição “Fotografar Palavras”. O projeto, criado pelo escritor leiriense Paulo Kellerman, reúne escritores e fotógrafos, de mais de 35 países, juntando as suas artes.
O projeto “Fotografar Palavras” associa escritores e fotógrafos desde 2016. Os escritores selecionam excertos dos seus trabalhos e os fotógrafos encontram uma imagem que complete o significado do excerto: é como se fotografassem palavras. Com dinamização a partir de um blogue, a iniciativa conta, em 2024, com quase cinco mil trabalhos publicados. Paulo Kellerman afirma que há várias razões para o projeto continuar a atrair tanta gente: “Uma delas é não existirem obrigações, prazos, vinculações; é um projeto de grande liberdade, não só nas abordagens estéticas e criativas que cada um pode adoptar, mas também na dimensão prática da participação”.
Além disso, explica que “os escritores têm interesse em perceber de que modo os fotógrafos interpretam os seus textos” e os fotógrafos valorizam a reação às suas fotografias. Paulo Kellerman é quem articula tudo com os vários participantes. Os escritores enviam-lhe os textos e, depois de traduzidos, se necessário, são distribuídos por vários fotógrafos.
“Os escritores não sabem que fotógrafos irão receber os seus textos e os fotógrafos não sabem de quem são os textos que recebem”, refere Paulo Kellerman. Segundo o organizador, o processo de seleção para a exposição “é muito democrático”. Mais ou menos um ano antes de cada mostra, são filtradas as publicações que cada fotógrafo tem no projeto. Kellerman diz-nos que “os cinquenta fotógrafos mais ativos nesse período “são convidados a expor as suas fotos”.
Na edição que esteve patente no m|i|mo este ano, foram escolhidos para a exposição trabalhos de fotógrafos que vivem em Kiev e em Moscovo. “Esta informação não é indicada, pelo que os seus trabalhos são analisados a um nível artístico e estético; mas sendo acrescentada essa informação, passa a existir uma dimensão geográfica e política na análise dessas criações”, explica Kellerman. Uma das características presentes na coleção de obras é que cada uma espelha várias perspetivas.
No que toca a objetivos, o autor leiriense refere já se ter cumprido “uma intenção muito presente” para o futuro do “Fotografar Palavras”, que consistia na “publicação em livro de alguns dos trabalhos do projeto, o que já se materializou com a publicação do catálogo da exposição deste ano e do ano passado”. Ainda assim, considera que um olhar para o futuro implica não esquecer as bases que deram origem à iniciativa: “Importa manter a raiz do projeto: unir criadores que sentem entusiasmo em colaborar entre si”.
Texto: Diogo Domingos | Francisco Simões | Gonçalo Costa | Xavier Clemente
Fotos: Cristina Vicente