A pressão do distanciamento social e do isolamento é hoje sentida por todos, pelo que é necessário perceber como combater os sentimentos negativos e manter a saúde mental.
Desde 2008 que o Serviço de Apoio ao Estudante (SAPE) do Politécnico de Leiria se foca no “desenvolvimento de uma intervenção que permita, entre outros aspetos, ajudar os estudantes a otimizarem recursos de diferentes fontes de suporte social, a evitarem situações de crise e de rutura, a diminuírem vulnerabilidades, a desenvolverem formas de lidar com o stress e a retirarem o máximo proveito das suas opções vocacionais e pessoais”, explica Graça Seco, coordenadora do SAPE. No atual contexto da pandemia da Covid-19, o apoio psicológico aos estudantes desenvolve-se, agora, em três dimensões: Apoio Psicológico e Orientação Vocacional, Orientação e Acompanhamento Pessoal e Social, e Apoio Psicopedagógico dos Estudantes.
Luís Filipe, psicólogo no SAPE, descreve a “mudança enorme” no seu ambiente de trabalho, em consequência da transição de uma relação presencial para o contacto online com o paciente. “As consultas estão baseadas na relação entre profissional e cliente e se não estivermos fisicamente juntos há muitas coisas que se perdem, nomeadamente a comunicação não verbal”, menciona o psicólogo. Além destas dificuldades, Luís Filipe aponta questões como a falta de resposta imediata e de confidencialidade, que não é garantida, pois “a consulta pode ser gravada ou alguém assistir”. Estes fatores alteram a dinâmica de trabalho dos psicólogos e “fazem com que um grande número de consultas não demore tanto tempo como no caso presencial”. O contacto online torna as pessoas mais desconfiadas e tímidas, acabando por encontrar refúgio no email.
Em tempos de crise, a também psicóloga do SAPE, Patrícia Pereira, relembra que o papel destes profissionais adquire maior relevância, pois importa “dar resposta à diversidade e heterogeneidade de pedidos dos estudantes”. Os desafios são muitos, a começar por uma comunidade académica que congrega várias nacionalidades. As consultas podem, por isso, ocorrer em diferentes idiomas.
Luís Filipe constata que as pessoas, anteriormente em acompanhamento, solicitam agora consultas com mais frequência, enquanto “outras, que inicialmente até diziam não precisar, acabam por querer”. Volvidas as primeiras duas semanas de quarentena, “as pessoas começaram a sentir-se deprimidas, stressadas e ansiosas com a incerteza do que está a acontecer”, adianta o psicólogo.
Patrícia Pereira corrobora a ideia do colega, salientando ser essencial “cuidar da saúde mental para eliminar alguns pensamentos mais negativos”. Para contornar a instabilidade emocional potenciada pelo isolamento e distanciamento social, aconselha-se que as pessoas “definam pequenos objetivos para realizar durante o dia e mantenham a rotina”, complementando com pausas para “equilibrar o dia entre tarefas mais exigentes e tarefas mais prazerosas e de lazer”, aconselha a psicóloga.
No mesmo sentido, Graça Seco sugere a participação nos cursos online gratuitos criados pelo SAPE, que abordam várias dicas “com o objetivo de disponibilizar algumas estratégias promotoras de autocuidado, tanto ao nível da saúde física como mental”.
Nesta fase inicial de desconfinamento e adaptação a novas rotinas sociais, Patrícia Pereira prevê que a sintomatologia dos quadros anteriormente apresentados se agrave, sobretudo os quadros de ansiedade, de depressão e algumas perturbações obsessivas”. Enquanto a medicina não encontra uma solução para o vírus, as novas tecnologias facilitam a comunicação e diminuem o distanciamento.
Texto: Laura Melícias | Neuza Santos | Sofia Morgado
Foto: Sasha Freemind | Unsplash