Chamava-se Luís: Uma família que lida com a toxicodependência

Capa do livro Chamava-se Luís. Em tons castanhos e amarelados, vemos, em primeiro plano, uma criança a olhar para baixo. Atrás dela, a sombra de um adulto. A mão do adulto move-se em direção ao ombro direito da criança. O rosto do adulto não é visível, é apenas uma sombra.

Chamava-se Luís é uma história da autoria de Marina Mayoral e aborda a vida de Luís, de trinta anos e toxicodependente, até à hora da sua morte. Há dez anos viciado, era viúvo, tinha dois filhos e vivia sem trabalhar, às custas de roubos e da família. A mãe é viúva e o seu irmão Pablo, também toxicodependente, falecera há um ano e meio. Nesta obra conhecemos Luís pelas palavras dos familiares, enquanto os conhecemos também.

Rosa, mãe de Luís, trabalha como empregada doméstica e retrata o sofrimento que vê no filho devido ao vício. Fala como Pablo nunca lhe dera trabalho e que não pedia nada para se drogar, mas que Luís a roubava e vendia os seus bens para comprar droga. Descreve o relacionamento infeliz que teve com o pai dos seus filhos e diz que não entende como é que dois entraram na vida da droga, visto que todos foram criados no mesmo ambiente. Desculpa sempre os erros do filho e é a única pessoa que trata dele.

Alberto, irmão de Luís, é um homem trabalhador, tem uma paixão pelo filho e condena a vida do irmão. Julgava Pablo um homem a sério, que pagava o que devia, mas via Luís como fraco, como uma máquina que funcionava a pilhas. Considera que era melhor que o irmão morresse para parar de “andar aos caídos”, mas admite que se lembraria dele quando pensasse nos momentos em que brincavam quando eram crianças.

Maribel, mulher de Alberto, tem um certo carinho pelo cunhado, leva-o muitas vezes ao hospital e é quem trata dos seus documentos, apesar de não gostar da vida que ele leva.

Lola, a irmã mais nova, gostava imenso de Cati, a namorada do irmão, a quem aconselhava sempre a separação, pois ele era violento e não tratava dos filhos. Apesar de já o ter ajudado, reconhece que Luís só dá desgostos, principalmente à mãe.

Também os filhos de Luís, Joaquín e Mónica, relatam a relação distante com o pai. Conhecemos ainda os pontos de vista de Pedro e Juan e da sua mãe, Aurélia, dona da casa onde Rosa trabalha, que consideram a sua situação muito degradante e têm pena da vida que leva por causa dos filhos.

Marina Mayoral é uma escritora e colonista espanhola e nesta obra relata um tema duro, onde uma família lida com alguém toxicodependente e explora a maneira como tal afeta as relações e as suas próprias vidas. Com este livro conseguimos perceber que por mais que alguém cause tantos problemas e inconvenientes, é sempre difícil renegar essa pessoa e deixá-la ao abandono, por mais que nos magoe.

Texto: Carolina Gonçalves | Diana Monteiro | Raquel Filipe