Twin Transistors: “O nosso objetivo é reunir dinheiro para tocar”

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De dia são o farmacêutico Nuno Dionísio, o gestor de frotas Hélder Ferreira, o programador informático João Santos, o agente comercial Miguel Fonseca, o empresário Tiago Piedade e o técnico de farmácia hospitalar Tiago Veloso. À noite juntam-se para fazer música. Horas antes dos Twin Transistors serem confirmados no Reverence Festival Valada 2016, um dos maiores eventos de música alternativa em Portugal, o Akadémicos foi ao ensaio da banda leiriense ouvir guitarradas in loco e conhecer os seis Twin.

Quando começaram a tocar?
Veloso Existem dois percursos distintos. Os Twin Transistors começaram em 2009, ainda muito focados nas teclas, com o Hélder, o Paulo Fuentez e o irmão do Hélder. Um ano depois, numas conversas de café, juntei-me com o Hélder para tocar algumas malhas. Logo a seguir vieram o Missa, o Piedade, o Dionísio e o Ramon. E assim passaram seis ou sete anos desde a segunda reunião. Só agora é que encontrámos uma formação que faz sentido, capaz de produzir e trazer algo cá para fora. O ano de 2014 marca, de facto, uma nova etapa, que trouxe um espírito de compromisso, uma atitude mais séria e ensaios regulares. O tempo antes era o da experimentação e das reuniões ocasionais, só para curtir um bocadinho.

Como caracterizam a vossa música?
Todos Rock, rock! O rock é a base de tudo. Depois o resto.
Veloso Agora, por exemplo, estamos numa fase de maior psicadelismo. As nossas influências é que definem – muitas vezes inconscientemente – o sentido do caminho que se vai percorrendo. Desse património fazem parte as sonoridades dos anos 60 e 70, Beatles, Doors, Velvet Underground ou Pink Floyd. Trata-se dos primeiros sons que ouvimos na adolescência de uma forma mais empenhada, aos quais estão associados bons momentos. Essa memória, simultaneamente, individual e coletiva acaba sempre por aparecer no momento de produzir letras e sons. As nossas bandas favoritas, do passado e do presente, acompanham-nos.

O álbum “Sun of Wolves” é, então, um cocktail de influências?
Hélder A nossa música, como na maioria das bandas, é o somatório das inspirações do passado com as motivações do presente, remexidas pelas experiências que unem cada um dos elementos do grupo.

Com que frequência costumam ensaiar?
Dionísio Duas vezes por semana e tocamos ao fim de semana. Há malta que vai para o ginásio. Nós preferimos tocar.

Onde compram o material de música?
Miguel No portal OLX e lojas. Temos, também, um amigo dos Allstar Project que faz pedais. Encomendamos e ele faz.

Existem critérios?
Todos Primeiro, material bonito. Segundo, barato. E só depois se soa bem! (risos). Não, é a ordem inversa. Qualidade, barato e bonito.
Miguel Calma! Mas se for foleiro e soar muito bem eu não o quero (risos). No final, a qualidade acaba por imperar. Hélder O nosso som é um bocado datado e, por isso, procuramos material antigo ou reedições de coisas mais velhas para alcançarmos essa sonoridade dos anos 60 e 70. É o que muitas vezes tentamos transportar para aqui. Quando navegamos no OLX, procuramos algo que entre nesse espírito.

É fácil conciliar, música, trabalho, vida pessoal e família?
Dionísio Tudo se faz com carinho.
Miguel Esforço e compreensão dos que nos são próximos.

Como definem o primeiro concerto dos Twin Transistors?
Hélder Uma reunião de amigos. Estávamos apreensivos porque era a primeira vez que íamos apresentar o projeto. Mas, mesmo à nossa frente, vários companheiros formaram um ruidoso grupo que nos incentivava. Estiveram o concerto todo a puxar por nós. E assim tudo se torna mais fácil.

Qual foi o local mais estranho ou sugestivo onde atuaram?
Miguel Mais estranho ou sugestivo? Não podemos dizer nomes. Corremos o perigo de não lá tocar para o ano (risos). O mais sugestivo foi, sem dúvida, em Leiria. Tocámos a olhar para o castelo. Gostamos de espaços mais pequenos. Mas, no geral, temos tido sorte e tocado nos locais que desejamos.

Os jeans, ténis e t-shirts que trazem para os ensaios são os que levam para os concertos?
Veloso Mais ou menos. Algumas vezes sim, outras não. Uma coisa é certa: não fazemos grandes transformações visuais e estéticas.
Dionísio Esta é a roupa com que hoje trabalhámos o dia todo. Se for preciso, num concerto, o vestuário repete-se. O nosso estilo anda sempre connosco, no trabalho, nos ensaios ou concertos.

O primeiro caché daria para pagar uma boa garrafa de vinho?
Todos Deu, sobretudo, para pagar dívidas e tornar o saldo menos negativo. A música, atualmente, é uma despesa. Uma garrafa? Um jarrito? Isso dá, mas importa ter juízo.
Hélder O nosso objetivo é reunir dinheiro para tocar. Não para distribuir em parcelas. Para viver da música, tínhamos que possuir um outro estilo e espírito ou participar ativamente em múltiplos projetos, como músicos de acompanhamento, contratados… Tentamos ganhar dinheiro para continuar a tocar e fazer música. É isso que nos move.
Tiago Claro que é importante alcançar alguma sustentabilidade, uma vez que permite não meter o nosso próprio dinheiro quando é preciso comprar material para o estúdio. Temos um fundo de maneio porque há locais que nem as despesas nos pagam.
Dionísio Geralmente, as artes em Portugal são pagas pelos próprios artistas. Não é raro encontrar alguém que pensa no nosso trabalho como um favor, qualquer coisa como garantido e, por isso, desvalorizado. Obviamente que seria fantástico viver da música. Trocava imediatamente o meu trabalho de farmacêutico pelo de músico.

Existe alguma razão especial para cantarem em inglês?
Hélder Para nós, a música faz mais sentido em inglês. Crescemos a ouvir música em inglês. Em português, se não forem textos muito bem escritos, soa muito, muito mal. É mesmo difícil.
Veloso Frequentemente, esta opção origina polémicas: ‘se és português porque não cantas na tua língua?’ Isso não faz sentido. Se assim fosse, andávamos todos de Saab e de Zundaap Famel ou Sachs Fuego. E não comprávamos Clios, Hondas ou Suzuki.

“À Francesa” é a primeira faixa do álbum de estreia. Qual a origem?
Veloso Tem duas histórias. Quando começámos a tocar essa música, baseámo-nos num solo de uma outra compilação francesa, já existente.
João Tipo Bitter Sweet Symphony, dos Verve.
Veloso Em segundo lugar, faz também sentido porque o Hélder, à noite, escapa-se à francesa – é rápido em tornar-se invisível. É uma brincadeira que conjuga as duas coisas.

Que mensagem transmite a vossa música?
Veloso Não queremos passar mensagem nenhuma, pelo menos de forma premeditada. Desejamos apenas tocar e, se possível, transmitir as emoções que nos invadem em palco. No fundo, transmitir o gozo que sentimos através da amizade e do espírito de compromisso que nos guia. Uma banda é mais do que a música que produz. É, também, a amizade que une os seus elementos. Consideramos importante transmitir o bom ambiente que nos governa. Já aconteceu subirmos ao palco todos meio chateados, por isto ou aquilo não correr como desejado. Mas, no final, quase nos abraçámos entoando o clássico bué da fixe.

Qual o feedback do público e da imprensa especializada?
Hélder Depois dos primeiros concertos, as críticas foram positivas e construtivas. As opiniões desfavoráveis, desde que construtivas, também ajudam. Temos de saber lidar com as opiniões boas e os comentários desfavoráveis.
Veloso A nossa sonoridade não é para massas, logo, à partida, sessenta por cento das pessoas que assistem aos concertos não vão achar piada. Fazemos música porque gostamos e não para bajular opiniões positivas. Não nos interessa. Obviamente que é bom obter reconhecimento do nosso trabalho, especialmente aqueles que ouvem o mesmo estilo de som e gostam. É uma motivação para continuar.
Hélder Só agradando a algumas pessoas é possível subir a fasquia, tocar em festivais, locais mais ressonantes do ponto de vista mediático, com melhores condições e bandas de que gostamos.

Se a vossa carrinha falasse, que histórias contava?
Dionísio Contava partilhas de ideias, bastante conversa. Festança na carrinha… Mas, felizmente, conseguimos sempre diversão num local mais fixe do que na carrinha.

Três palavras para definir a banda?
Todos Rock do caraças.

O que podemos esperar, num futuro próximo?
Todos O segundo álbum.

 

Texto: Sara Ramos | André Azevedo
Foto: Diana Almeida