A pandemia da Covid-19 colocou no esquecimento a crise política e humanitária vivida na Venezuela. Antes deste período de turbulência à escala global, milhares de lusodescendentes já tinham regressado a Portugal, com a esperança de terem melhores condições de vida. Entre eles, muitos são os jovens que tiveram de se adaptar a uma nova cultura, prosseguindo os estudos no nosso país.
“Pequena Veneza”. É esse o significado do nome Venezuela, dado pelos primeiros colonizadores quando viram construções alicerçadas em estacas, chamadas de palafitas, por cima do rio Maracaibo. Hoje, é na Venezuela que existe a segunda maior comunidade portuguesa da América Latina, depois do Brasil. No entanto, estes números têm vindo a descer. São mais de dez mil os portugueses e lusodescendentes que regressaram a Portugal em consequência da crise económica, social e humanitária que se vive no país do petróleo. Outrora, a Venezuela já ofereceu aos seus emigrantes uma vida confortável, realidade que se alterou nos últimos anos. No presente, o bem-estar que encontraram neste estado da América Latina é apenas uma memória.
Muitas são as razões que, conjugadas, levaram a fortes movimentos migratórios para a Venezuela. Enquanto o mundo ocidental ultrapassava uma grave crise petrolífera, na década de 70, a Venezuela revigorava-se e transformava-se numa atração para estrangeiros que procuravam uma vida melhor. Laurinda Domingues e António Gonçalves mudaram-se para a Venezuela em 1970, depois de casarem. Tinham 24 e 26 anos, respetivamente, e uma mão cheia de sonhos. Provenientes de famílias humildes, foi neste país que encontraram uma vida confortável que lhes permitiu criar os três filhos. Cada um conseguiu, também, a possibilidade de adquirir o seu próprio negócio. António era proprietário de uma mercearia, enquanto a mulher detinha uma espécie de drogaria, sempre referida como quincalla.
Laurinda Domingues recorda que, naquele tempo, o país era muito desenvolvido em relação a Portugal. “Tinha boas autoestradas, qualquer pessoa podia trabalhar e ganhava muito dinheiro. Havia segurança”, conta. O casal refugiou-se em Calle Real de Montesano, no estado de Vargas. Na altura, era uma cidade paradisíaca, à beira-mar e perto do aeroporto Simón Bolívar. Na rua onde viviam, eram visíveis as favelas construídas ao longo das montanhas. Pouco precisavam de andar para encontrar outros compatriotas no comércio local. “A Venezuela tinha muitos emigrantes. Quem tinha negócios eram, sobretudo, os portugueses, os italianos, os espanhóis e os chineses”.