Em Portugal, mas atentos ao outro lado do Atlântico
Mantendo o contacto com a família que ficou na Venezuela, Mariana Benítez descreve a situação difícil que se tem vivido nos últimos tempos. “Os preços dos produtos são diariamente alterados, dependendo da flutuação do dólar. Se o dólar subir de manhã, à tarde já há outro preço. Se o dólar baixar, os preços continuam iguais. A Venezuela está completamente dolarizada”, explica a lusodescendente.
Prevê-se que a crise instalada na Venezuela esteja longe de terminar. O autoproclamado Presidente do país, Juan Guaidó, continua na sua luta pela remoção do atual regime e pelo afastamento de Nicolás Maduro da Presidência da Venezuela, mas parece faltar o apoio da população, que se revela esgotada. A ideia de que o líder da oposição detém o apoio da comunidade internacional e dos EUA já está ultrapassada, o que compromete a mobilização da população. “Juan Guaidó perdeu muita força e já não consegue mobilizar tantas pessoas. A sua coragem vinha muito da convicção de que os EUA o estariam a apoiar, o que não aconteceu. A coragem dele acaba por ser comprometida porque sozinho não consegue”, reforça Nancy Gomes, acrescentando que “não há dúvida que, se as forças armadas apoiassem uma solução que indicasse a saída de Nicolás Maduro e a chegada ao poder de um governo de transição, o atual Executivo iria abaixo”.
Por enquanto, Laurinda Domingues e António Gonçalves tentam resolver problemas relacionados com o aluguer dos seus estabelecimentos localizados na Venezuela, sem conseguirem comunicar com a imobiliária que os representa. Por não voltarem ao país há cerca de três anos, correm o risco de perder todo o dinheiro que ainda lá têm depositado, além de que pretendem dar o apartamento onde viveram a pessoas amigas, desfazendo o vínculo material que ainda os une àquele país. O deslumbramento que sentiram quando chegaram à “pequena Veneza”, há 48 anos, é hoje substituído pelo desapontamento: “A Venezuela é um país de quinto mundo”.
Mariana Benítez e a família vão acompanhando as notícias que chegam da Venezuela. Sempre que possível, enviam medicamentos e bens à família que lá ficou, numa tentativa de melhorar o seu conforto. E por cá vão ficando, mesmo que o seu coração ainda pareça estar do outro lado do Atlântico.
Outros testemunhos…
Oriana Benítez, de 21 anos, mudou-se de Barcelona, em Anzoátegui, para a cidade de Pombal. Já tinha visitado Portugal, mas admite que a adaptação “foi um bocado complicada porque não falava a língua”. As saudades marcam o seu quotidiano. “Sinto falta das pessoas, de sentir que pertenço a um lugar. Tenho saudades dos abraços da minha avó, do clima e das praias quentes”, confessa.
Também Laura Gordillo, de 20 anos, teve uma adaptação difícil. Veio de Caracas e fixou-se em Leiria, depois de uma passagem por Valença do Minho, onde residem os pais. Sofreu xenofobia e “muita incompreensão pela situação que os venezuelanos
passam”, mas gosta de viver em Portugal. Apesar das saudades, reconhece: “Encontrei aqui o que a Venezuela não me pode oferecer”.
Com outra experiência, Martin Gonçalves, de 18 anos, chegou a Portugal há 6 meses vindo de Caracas e diz que a adaptação “foi bastante boa”. Conta que tem “muitas saudades do clima, das amizades e da comida”, um sentimento partilhado por Natalia Fernandes, de 20 anos, também de Caracas: “Cheguei à Madeira com 18 anos. Não podia ter-me adaptado melhor, mas sinto falta da alegria, amabilidade e do humor que os venezuelanos conservam, além dos meus familiares e amigos”
Texto: Inês Mendes
Fotos: Jonathan Mendez (Unsplash) | luisana zerpa (Unsplash)