Foi diretor de diversos órgãos de comunicação social e é também autor de diversos programas de televisão. Jornalista e escritor, Luís Osório conta com um vasto leque de publicações da sua autoria. Para o seu mais recente livro 30 Portugueses, 1 País, entrevistou 30 personalidades e deixou-as falar sobre o país que somos. Na sua opinião, um país “de contrastes e paradoxos”, mas “extraordinário”.
Pensou sempre seguir uma carreira em jornalismo?
Sempre tive a ideia de ser jornalista, sim. Desde que me conheço. Quando era miúdo, com uns oito anos, ia ajudar o Sr. Correia numa papelaria na Rua de Sampaio Bruno, no bairro onde nasci, em Lisboa. Ajudava na venda de jornais e tinha o sonho de um dia estar no outro lado. Num dos seus livros, Quanto tempo – uma criança no olhar, refere que as suas forças e fragilidades lhe foram conferidas à distância pelo seu pai, que sempre foi ausente.
Que influência tem a ausência de um progenitor na vida de uma criança?
Terá certamente influência, mas não consigo responder de uma maneira tão geral. Em mim, teve uma forte influência. Curiosamente, não consigo, com toda a sinceridade, dizer que foi mais negativa do que positiva. O meu pai foi ausente, nunca ajudou a minha mãe no que quer que fosse. Porém, nunca deixou de ser uma referência, era um homem poderoso, um homem forte e por quem eu sempre tive admiração. Não o amei como a um pai mas admirei-o sempre muito como uma referência.
São da sua autoria diversos programas televisivos, como Portugalmente e Zapping. Qual a importância destes formatos, tendo em conta a época em que foram emitidos?
Serviram, por um lado, para provar que era possível aparecerem novas pessoas a fazer televisão. E nesses programas trabalharam comigo Tiago Rodrigues, Nuno Costa Santos, José Mário Silva, Rita Ferro Rodrigues, Luís Filipe Borges e até Pedro Mexia. E, por outro, para experimentar formatos novos e testar a criatividade, pensar o mundo e a televisão com um olhar diferente. A esses dois programas está associada Teresa Paixão, atual diretora da RTP 2. Foi ela a convidar-me para os dois projetos. E a convidar-me com carta branca para pensar os modelos como quisesse. Foi uma enorme prova de confiança.
Existe a necessidade de criar conteúdos inovadores, quer em televisão, quer noutro tipo de plataformas proporcionadas pelas novas tecnologias?
Existe uma necessidade imperiosa de criar formatos inovadores. Há, com certeza, ideias novas e projetos muito interessantes, mas se quer que seja absolutamente sincero digo-lhe que esperava mais e melhor.
Foi nomeado e ganhou diversos prémios ao longo da sua carreira. O que guarda desse reconhecimento?
Guardo os prémios – com exceção do Sete de Ouro e do Prémio Gazeta Revelação, que perdi algures em mudanças de casa. Lamentavelmente nunca os consegui encontrar.
É também comentador político. De um modo geral, considera que as gerações atuais estão cientes do que é a vida política do nosso país?
Penso que sim. As gerações atuais nasceram em liberdade e num mundo globalizado. Ao mesmo tempo são gerações preparadas. Nunca existiram tantos licenciados e doutorados. O que acontece é outra coisa: por um lado, desinteresse; por outro, falta de informação. As duas coisas parecem paradoxais, mas são verdadeiras. Tornámo-nos mais individualistas, mais desinteressados. No entanto, há coisas que estão a acontecer e que são positivas. O combate contra as alterações climáticas, por exemplo. E isso é política.
No seu entender, qual seria a importância de introduzir na escola novas abordagens acerca do tema?
Teria de ser pensado. Porém, parece-me fundamental que os currículos e disciplinas não cristalizem. O mundo está a mudar muito rapidamente e a escola deve estar preparada para isso, adaptar-se a isso.
Todos os dias somos “bombardeados” por notícias, nem sempre verdadeiras. Como vê a relação entre as novas tecnologias e o jornalismo na atualidade?
A sua pergunta já inclui uma perversidade. Se não são verdadeiras, não são notícias. São apenas mentiras. A relação é de adaptação. O mundo mudou rapidamente: o jornalismo está a adaptar-se a este culto da rapidez e da superfície e sobretudo ao culto da soberania do consumidor.
Atualmente dedica mais tempo à escrita do que ao jornalismo. Em que momento sentiu que preferia a escrita de um livro à redação de textos jornalísticos?
Na minha vida as coisas não funcionam assim. Deixo que a vida me leve e dedico-me totalmente ao que em cada momento faço. Gosto de escrever uma reportagem, gosto de dirigir um projeto jornalístico, gosto de falar, de ensinar, de escrever livros, de encenar peças de teatro e de muito mais coisas. Em cada momento deixo que a vida se encarregue de me mostrar o caminho. Mas sim, é verdade… quero escrever romances, tenho muitos fantasmas na cabeça, fantasmas a que preciso de dar liberdade.