Após meses de confinamento e um lento regresso à normalidade, é quase impossível imaginar o que teria sido 2020 se a pandemia não tivesse ocorrido. Isto aplica-se não só à vida pessoal e ao mundo do trabalho, mas também a outros universos, como o da música pop. Planos de lançamento alterados, digressões canceladas e até álbuns gravados em quarentena.
A primeira vítima foi After Hours do The Weeknd. Lançado a 20 de março, o melhor projeto do artista canadiano desde a compilação Trilogy consegue satisfazer todas as fações da sua base de fãs sem perder a coesão. Nele há R&B, há trap, há new wave… Uma semana depois, Dua Lipa lançou o seu esperado segundo álbum, Future Nostalgia. Precedido pelos êxitos Don’t Start Now e Physical, o LP é inspirado por uma variedade de géneros musicais, seja disco dos anos 70, dance-pop dos anos 80, ou nu-disco ao estilo de Kylie Minogue. Contendo uma variedade de referências ao passado, Future Nostalgia e After Hours são quase como álbuns irmãos: o primeiro para o dia, o segundo para a noite.
A nostalgia foi um dos temas mais explorados nos lançamentos da primeira metade deste ano, não só em termos musicais, mas também em termos estéticos. Sawayama, o (subvalorizado) álbum de estreia da artista nipo-britânica Rina Sawayama, é um flashback à música dos anos 2000, combinando o pop adolescente de Britney Spears com o punk britânico e o nu-metal.
Também Lady Gaga regressou em maio com Chromatica, após um adiamento causado pela pandemia. O título do disco refere-se a um imaginário mundo distópico e o álbum aborda temas como saúde mental, autoestima e trauma, com uma produção que revive a música house dos anos 90.
A quarentena deu igualmente a oportunidade a alguns artistas para criar música. A 15 de maio, Charli XCX lançou How I’m Feeling Now. Gravado em isolamento com a colaboração dos seus fãs, o quarto álbum da artista britânica foi aclamado pela crítica. A 23 de julho, Taylor Swift colocou as redes sociais num frenesim ao anunciar inesperadamente que iria lançar, no dia seguinte, um novo álbum gravado em isolamento. Folklore é o disco que muitos queriam que Swift lançasse. Com uma mistura de folk e pop, o LP vendeu 846 mil cópias na primeira semana nos Estados Unidos.
Durante os tempos confusos do confinamento, estes foram alguns dos álbuns capazes de ocupar e distrair os fãs. É bom saber que, independentemente da complexidade do momento, podemos sempre contar com a música.
Texto: Ana Silva | Pedro Fernandes | Tiago Ribeiro
Foto: Lee Campbell | Unsplash