Restos do Vento é uma obra cinematográfica portuguesa, de género dramático, que teve a sua estreia na 75.ª edição do Festival de Cannes. Realizado pelo aclamado cineasta português Tiago Guedes, o filme decorre em torno dos habitantes de uma pequena vila do interior de Portugal, onde existe uma tradição pagã ritualística, feita no início da adolescência dos rapazes, que consiste em perseguir mulheres enquanto estão mascarados e com a liberdade de fazerem o que quiserem com elas, com ou sem o seu consentimento.
Logo no começo somos apresentados à personagem principal – Laureano – e conseguimos perceber que o seu pai não é muito apreciado pelos outros habitantes da vila. No início do ritual, Laureano mostra-se desconfortável perante as cenas violentas que presencia, por ser contra os atos, levando-o a obrigar todo o grupo a interromper o que estavam a fazer. Como consequência da sua decisão, acaba por ser espancado pelos outros jovens e posto à parte pelo grupo, uma discriminação que se prolonga no tempo e que o leva a viver isolado a vida adulta, apenas com uma matilha de cães vadios como companhia. O grupo volta a reunir-se 25 anos depois, num reencontro que abre a porta a um grande desastre que desestabiliza o sossego da vila.
O filme é o resultado de uma produção de elevada qualidade, e conta com a presença de excelentes atores (Albano Jerónimo, Nuno Lopes, Isabel Abreu, Gonçalo Waddington, entre outros) e de um roteiro que “prende” o espectador desde o primeiro minuto. Gravado na aldeia de Meimão, em Penamacor, retrata o ambiente e as tradições de um país longe dos centros urbanos. Através da problemática abordada, consegue transmitir traços breves da cultura portuguesa para o mundo. A obra expõe de uma forma arrojada as consequências do ritual e da masculinidade tóxica na vida dos habitantes da aldeia.
A longa-metragem ganha nome através da referência às sequelas geradas pela tradição. Outro fator importante é o simbolismo do vento, que pode ser interpretado como a chegada da fase adulta para aqueles jovens, funcionando como metáfora para representar a imprevisibilidade e situações que nem sempre deixam antever os danos que podem causar, e sobre os quais não há controlo.
Além de promover uma reflexão sobre a maldade humana e os seus limites, a película mostra-nos um lado da injustiça e da vingança, colocando o espectador perante o dilema moral de ver que, por um lado, os “vilões” não sofrem as consequências dos seus atos e, por outro, os “inocentes” acabam por sofrer com o fardo das feridas causadas por outras pessoas.
Texto: Joana Freitas | Larissa Waite | Mariana Vilalba