Férias, para que vos quero?

Três jovens a falar, sentados num miradouro, com vista para as montanhas. Cenário de férias, com sol.

Com o fim do ano letivo à porta, surge a dúvida em muitos estudantes: “O que fazer no verão?”. Entre aproveitar para descansar e trabalhar o verão todo, existe um mundo de decisões. As experiências vividas durante as longas férias podem fornecer uma nova energia, mas também podem ajudar a desenvolver competências e a enriquecer currículos.

Tomás Grácio é um estudante universitário de 20 anos que opta por investir o tempo livre de verão para trabalhar e amealhar algum dinheiro. Para muitos, o verão é um período de descontração e lazer, no entanto, bastantes jovens escolhem dedicar-se a trabalhos remunerados, também como forma de ocuparem os dias sem aulas. Este verão, Tomás é empregado de mesa no restaurante “Quatro Talhas”, no concelho de Sardoal. “Não é difícil de encaixar/equilibrar o horário de trabalho, pois não me comprometo com outras responsabilidades. A minha principal preocupação é cumprir as cargas horárias do trabalho, o tempo que sobra aproveito para descontrair”, explica Tomás.

Apesar de nem sempre ser possível aos jovens trabalhar durante o verão nas suas áreas de estudo, o estudante reconhece que se adquirem habilidades importantes nestas experiências. Sentido de responsabilidade e de dever ou a capacidade de gerir o tempo são algumas das competências transversais que Tomás considera ter desenvolvido. Mas não só. “Como trabalho na área de restauração, lido com bastantes pessoas todos os dias, inconscientemente desenvolvi técnicas de comunicação e resolução de problemas, penso que me tornei numa pessoa mais prática e dinâmica”, acrescenta o estudante.

Os meses de paragem letiva são também vistos como uma oportunidade para desenvolver conhecimentos que enriquecem o currículo. A preparação para o mercado de trabalho levou Andrelina Leal, estudante de Educação Básica no Politécnico de Leiria, a realizar um estágio de verão no ano passado. Escolheu dedicar o seu tempo a um programa de atividades para crianças num museu. “Tinha várias opções de escolha, podia escolher aquele que mais se assemelhasse ao que estou a tirar na licenciatura”. Não só aprendeu, como também pôs em prática o seu conhecimento.

O estágio pode também ajudar os jovens a sair da sua zona de conforto, como foi o caso da estudante. “A minha maior dificuldade foi trabalhar em equipa, por vezes, devido à diferença de idades relativamente a algumas das minhas colegas, mas, acabei por gostar de trabalhar pois ensinaram-me muitas coisas”, afirma Andrelina.

A estudante acredita que esta experiência pode vir a ajudar os jovens a perceber o que mais gostam, o que menos gostam e onde pretendem trabalhar futuramente. “Como futura professora ou educadora, todas as atividades que realizei podem vir a ser úteis e também desenvolvi capacidades de trabalho autónomo”, conclui.

Plataforma central de estação de comboios. De cada lado, um comboio parado.

Explorar países pela linha férrea

O passe InterRail tornou-se amplamente conhecido como uma forma de explorar diferentes culturas europeias por meio de viagens de comboio. Em 1972, foi introduzido em Portugal e no ano passado, de acordo com dados da Eurorail, aproximadamente 600 mil passes foram adquiridos na Europa.

Francisca Gonçalves, de 22 anos, natural de Rio Maior, decidiu fazer um interrail com cinco amigos por “existir a possibilidade de conhecer vários países a um custo mais vantajoso”. Em 13 dias, a jovem passou por Amesterdão, Roma, Florença, Veneza, Liubliana e Budapeste. Considerou a experiência “inesquecível, apesar de bastante desafiante e intensa” por ter constantes alterações de rotina que não permitiam muito tempo de descanso. Para se fazer um interrail pode-se comprar um passe de duração variada junto da CP, cujo valor depende do número de cidades que se quer visitar e em quanto tempo. No caso de Francisca, decidiram em grupo as cidades a visitar e designaram duas pessoas do grupo como responsáveis para organizar toda a viagem.

Considera que a experiência alterou a sua forma de pensar devido ao contacto com diferenças culturais, económicas e gastronómicas dentro do continente europeu. Afirma que o que mais gostou na viagem foi conseguir conhecer tantas cidades e culturas num tempo reduzido. Aconselha todos a passarem por esta experiência, que diz ser “surpreendente”.

Três jovens a sorrir escorregam por um oleado ensaboado. Lá atrás, um grupo de outros jovens corre para escorregar também. Cenário de férias.

Atividades, natureza e comunidades

Outra forma de ocupar o tempo no verão são as colónias de férias, seja no papel de participante ou de monitor. António Dinis, de 22 anos, natural de Ponta Delgada, foi monitor numa colónia de férias na sua freguesia, com o objetivo de enriquecer a sua experiência de trabalho num ambiente menos rígido. Durante um mês, esteve encarregue de um grupo de crianças, para o qual dinamizava atividades juntamente com uma equipa de outros monitores. De segunda a sexta-feira, tinham de planear o programa da manhã antes de as crianças chegarem, da parte da tarde havia liberdade de escolha dos mais novos.

António considera que “tinha uma boa relação com as crianças”, mas que, por vezes, tinha de “ser mais autoritário” para conseguir controlar um grande grupo. Refere também que ter uma equipa de monitores “simpática e acolhedora” ajudou nesse processo. No fim da sua experiência, António considerou que foi “interessante e enriquecedora” por ficar com a capacidade de lidar com situações inesperadas e de aprender a tomar conta de um grande grupo de crianças. Aconselha a experiência a jovens adultos, mas alerta: “É um trabalho que exige muita paciência e trato, uma vez que estamos a lidar diretamente com crianças.”

Sendo o verão sinónimo de atividades ao ar livre, o escutismo é um dos movimentos que tiram especial proveito deste período do ano. Procuram reforçar a ligação à natureza, enquanto contribuem para a educação dos jovens para um papel construtivo em sociedade. Alex Silva, de 20 anos, natural da ilha do Pico, é um escuteiro ativo desde os nove anos que destaca esta importância do espírito comunitário. “A minha irmã foi fundamental para participar no escutismo. Não tinha noção que as atividades que fazemos lá nos podiam ensinar tanto e sinto que nos tornamos uma família”, indica o jovem.

Vários foram os valores retirados da experiência, mas, segundo Alex, a forma como aprendeu a preservar o meio ambiente e a trabalhar em equipa deu-lhe uma perceção diferente de como viver a sua vida. “Apesar de as atividades ocuparem bastante do nosso tempo livre no verão, ajudou-me imenso a gerir o stress, a respeitar o meio ambiente e recebi formações que se tornaram muito úteis no meu dia a dia”, explica o escuteiro. Alex aconselha todos participarem, para ganharem novas experiências e se divertirem
simultaneamente.

Pessoa pinta cerca de verde.

Ganhar tempo a ajudar os outros

Fazer voluntariado é uma atividade de ano inteiro, mas no verão, com mais tempo livre, permite aos jovens outra dedicação. Afonso Vidigal, estudante do Politécnico de Leiria no curso de Comunicação e Media, faz trabalho voluntário todos os anos e conta como ser voluntário pode causar um impacto positivo na nossa vida e nas vidas de quem se ajuda. Conta já com atividades em lares de idosos, no Banco Alimentar ou na pintura de edifícios degradados. “Com o voluntariado percebes que o mundo não é só festas e os nossos problemas de adolescentes, consegues ver o outro lado e como uma tua simples ação pode mudar o dia de uma pessoa”, explica o jovem. Afonso considera que é uma experiência enriquecedora e deixa o conselho para os jovens que possam estar indecisos em aderir ao voluntariado: “Não pensem muito. Inscrevam-se! Tenho a certeza de que a maior parte das pessoas que experimentar vai querer fazer mais, não conheço ninguém que tenha experimentado o voluntariado e não queira repetir.”

Texto: Bernardo Garcia | David Sampaio | Diogo Ramos | Pedro Afonso
Fotos: Eddy Billard ; Claudio Schwarz ; Luke Porter ; Daniel Chekalov | Unsplash