Cheila Roça: O poder da persistência

Natural das Caldas da Rainha, Cheila Roça foi estudante da licenciatura em Educação Básica na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais (ESECS) do Politécnico de Leiria. Após acabar o mestrado em Educação Pré-Escolar em 2012, fundou a Associação de Acompanhamento Pedagógico e Social Construtores de Encantos, que tem como objetivo criar condições para que as crianças mais desfavorecidas possam melhorar os seus métodos de estudo e aumentar o seu desempenho, proporcionando atividades de acompanhamento em tempo de interrupção letiva. Aos 33 anos, Cheila vê agora o seu trabalho ser reconhecido pelo Politécnico de Leiria com o Prémio Carreira Alumni 2021. 

Devido ao facto de ter dislexia, o seu percurso académico foi “bastante atípico”, tendo mesmo surgido algumas dúvidas em relação à capacidade de concluir o curso. “Ao entrar na ESECS, achava que todos os contratempos que a dislexia me poderia causar já tinham sido ultrapassados”, refere Cheila. No entanto, tal não aconteceu. Foi no contacto com outros estudantes disléxicos que ficou a conhecer o Serviço de Apoio ao Estudante (SAPE) do Politécnico de Leiria, que lhe deu o apoio necessário para terminar a licenciatura e ingressar no mestrado. 

A sensibilidade para identificar e ajudar quem tem dificuldades é um dos traços da educadora, o que a levou a querer saber mais acerca de quem a rodeava. Em conversa com diversas pessoas da sua freguesia ficou a saber que existiam muitas crianças com dificuldades educativas especiais e/ou com limitações no acesso à educação. “Isso fez-me pensar e quem me conhece sabe que eu sou uma pessoa eternamente insatisfeita”, explica Cheila. Começou a informar-se sobre como criar uma associação, reuniu-se com elementos da Junta de Freguesia para conseguir um espaço que servisse de sede para o seu projeto e conseguiu avançar. Em 2014, surge o primeiro projeto que permitiu “dar às crianças carenciadas uma oportunidade de terem contacto com um mundo que ainda não tinham conhecido”. Para Cheila, é possível fazer a diferença na vida daquelas crianças, mesmo com poucos recursos. 

Relativamente ao Prémio Alumni, a candidatura não foi planeada, surgindo quase espontaneamente. “Eu não conhecia o prémio, não me passou pela cabeça concorrer, até que, numa conversa com uma professora da ESECS, surgiu a ideia”. Foi com surpresa que, passados uns dias, recebeu um email da vice-presidente do Politécnico de Leiria a informar que tinha sido selecionada. 

Apesar da importância do reconhecimento, o foco de Cheila é, neste momento, o trabalho da sua associação. Com a pandemia, tem recebido cada vez mais pedidos e infelizmente não tem um leque de voluntários nem de parceiros que lhe permita dar resposta a todos. “Para mim, é quase doentio ter crianças que eu não posso ajudar”, explica. No futuro, o principal objetivo é juntar mais pessoas e ajudas, económicas ou não, em torno das causas da associação. 

Texto: Carolina Barros | Edmar Correia | Eva Carvalho | Sofia Batista
Foto: redes sociais da entrevistada.