De Rafael Bordallo Pinheiro a Eça de Queiroz ou Afonso Lopes Vieira, do “Moinho do Manuel Moleiro” às Grutas da Moeda, são muitos os motivos associados à história e memória do território. O Akadémicos foi conhecer o turismo das rotas que vai despoletando no campo e na cidade, em Fátima, Mira de Aire, Leiria, Caldas da Rainha ou Batalha.
A região de Leiria apresenta uma rede de património histórico, etnográfico, natural e imaterial que não se esgota no recorte natural das suas praias. É verdade que os areais brancos da Costa Atlântica são uma das principais atrações turísticas do distrito, convocando os entusiastas da arte xávega, da pesca desportiva e dos desportos aquáticos. A frente marítima representa, porém, uma parcela do potencial que combina tradição e modernidade. O imaginário coletivo da região é animado por acontecimentos enraizados na memória das comunidades que marcam o seu pulsar, por vultos da cultura nacional e pelo valor do património histórico.
Percorrendo os trilhos do Maciço Calcário Estremenho, as grutas, os moinhos, os algares ou os campos de lapiás, a região de Leiria move-se através de um conjunto de atividades e experiências. São elementos naturais, imateriais, etnográficos e arquitectónicos que conferem uma importante dimensão ao turismo cultural da zona centro.
Caldas de Bordallo Pinheiro
A Rota Bordaliana é uma das mais recentes atrações turísticas das Caldas da Rainha, associando o lazer à sua história. O itinerário propõe dois percursos, um longo e outro curto. O primeiro abarca os vários elementos que remetem para a vida e obra de Rafael Bordallo Pinheiro. Já o segundo, concentra-se nalguns dos mais representativos trabalhos do escultor, disponibilizando 20 figuras que, em certos casos, se destacam pelas proporções agigantadas.
Os visitantes podem observar peças como o carismático Zé Povinho, a tradicional Ama das Caldas, o autoritário Polícia Civil e o virtuoso Padre-Cura. Todas as personagens foram criadas como uma crítica à sociedade em que Bordallo Pinheiro viveu. Fazem parte do percurso representações de rãs, gatos, cogumelos, sardões, andorinhas e folhas de couve.
A ideia da Rota Bordaliana partiu de Jéssica Gonçalves, ex-estudante da Escola Empresarial do Oeste. Há três anos, no âmbito do trabalho final do curso de Turismo, sugeriu a criação de um trajeto onde pudessem figurar os trabalhos desta figura ímpar da cultura portuguesa. A peças em exposição foram produzidas pela Fábrica Bordallo Pinheiro, ainda no ativo.
Hugo Oliveira, vice-presidente da Câmara Municipal das Caldas da Rainha, explica que este projeto foi pensado no sentido de valorizar a presença de Bordallo Pinheiro na história da cidade, sendo uma alavanca para um pensamento estratégico alinhado com a promoção do concelho das Caldas da Rainha. O edil não rejeita a incorporação de novas figuras e afirma que a rota “está a cumprir os seus objetivos e a ultrapassar as expectativas, sendo já uma realidade incontornável do espaço público”.
Para facilitar a mobilização de turistas, a autarquia instalou a plataforma interativa MUPI nas principais artérias da cidade. Esta tecnologia permite aos visitantes acederem ao mapa e aos pontos de interesse da Rota Bordaliana, estando ainda dotada de uma funcionalidade que permite as famosas selfies.
Rota dos Escritores de Leiria
Muitas das ruas e praças de Leiria possuem o nome de grandes escritores portugueses, formando um conjunto de símbolos destinados a perpetuar o imaginário literário da cidade. Para homenagear o seu património intelectual e cultivar essa ligação às Letras, a Câmara Municipal de Leiria criou em 2011 roteiros centrados em autores como Eça de Queiroz, Afonso Lopes Vieira, Francisco Rodrigues Lobo, Acácio de Paiva ou Miguel Torga. Estes são percursos que privilegiam, sobretudo, a vida dos escritores e os espaços que estes frequentaram durante a sua estada em Leiria.
Inicialmente, os itinerários surgiram com intuito de comemorar a feira do livro, animados pela “necessidade de relembrar e homenagear os escritores leirienses”, refere Miguel Narciso, do Arquivo Histórico Municipal de Leiria. As primeiras rotas centraram-se em Eça de Queiroz, Afonso Lopes Vieira, Miguel Torga, Francisco Rodrigues Lobo e Acácio de Paiva.
Mais tarde surgiu a “Rota d’O Crime do Padre Amaro”, o percurso literário que alcançou maior sucesso e trouxe mais visitantes a Leiria. Lançada em junho de 2013, apresenta um conceito diferente na medida em que percorre as descrições de Eça de Queiroz sobre os diferentes espaços da cidade. O ponto de partida é a Fonte das Três Bicas. A “Rota d’O Crime do Padre Amaro” deu origem à Rota Arte Urbana, onde se encontram trabalhos de Sílvia Patrício, referentes à obra de Eça de Queiroz. As telas da artista plástica propõem um diálogo através do qual emergem representações resultantes da sua interpretação do romance e da própria experiência quotidiana.
Todos os roteiros estão a cargo da Biblioteca Afonso Lopes Vieira e podem ser realizados de forma autónoma. O visitante acede ao sítio da Câmara Municipal, no espaço “Visite Leiria”, faz o download dos textos e mapas, tornando-se o seu próprio guia turístico. É, igualmente, possível realizar os trajetos através de uma visita guiada, contando com a presença de convidados intimamente ligados à vida e obra dos escritores. As próximas visitas estão agendadas para os meses de agosto e dezembro.
Batalha, rotas do património e da natureza
O concelho da Batalha apresenta vários atrativos inseridos no património histórico do país e nas suas riquezas naturais. São elementos que foram sendo valorizados pela Câmara Municipal e se apresentam ao público na forma de percursos temáticos, uns mais ligados ao património arquitectónico, outros à natureza.
A Rota da Vila Heróica, alicerçada no Mosteiro de Santa Maria da Vitória, convida a conhecer os elementos associados à passagem de relevantes personagens que emprestaram à vila a sua identidade heróica. Já na Rota da Fé são destacados monumentos que, pelo valor artístico e, sobretudo, devocional, se encontram relacionados com determinados acontecimentos enraizados na memória coletiva da comunidade.
Mais centrada nas riquezas geológicas das freguesias de Reguengo do Fetal e de São Mamede, encontra-se a Rota do Carso. Sugere uma caminhada em contacto com a variada fauna e flora que carateriza o Maciço Calcário Estremenho. Grutas, algares, escarpas, campos de lapiás são alguns dos valores naturais possíveis de observar.
Os trilhos pedestres abarcam, também, a Rota dos Moinhos, com início junto à Escola Básica dos Crespos, em São Mamede. Durante cerca de três horas, propõem-se passagens pelos moinhos do “Casaca”, do “Zé Cuco”, do “Manuel Moleiro”, do “Mocho” ou do “Castelinho”, cuja história se encontra associada às pedras que os edificam. O percurso termina no Ecoparque Sensorial da Pia do Urso, um espaço dotado de equipamento integralmente vocacionado para cidadãos portadores de deficiência visual. São quase sete quilómetros de contacto com criações humanas e da natureza, como a rosa albardeira, muito similar à tulipa e atualmente em vias de extinção.
Grutas de Fátima e de Mira de Aire
As mais conhecidas e as que pode visitar encontram-se em São Mamede, Alvados e Mira de Aire.
Em São Mamede, as Grutas da Moeda, que foram descobertas em 1971, têm 350 metros de comprimento e 45 de profundidade. Estas abrem ao público sempre pelas 9 horas da manhã e têm horário de encerramento dependente da altura do ano: às 17 horas de outubro a março, às 18h de abril a junho, e às 19h00 de julho a setembro. Os tempos de visita variam entre os 30 e os 40 minutos.
As Grutas de Santo António e de Alvados, ambas localizadas em Alvados, foram descobertas em 1955 e 1964, respetivamente. As grutas abrem ao público às 10h00, encerrando apenas às segundas-feiras, durante o Inverno (setembro a junho). Neste período, fecham às 17h00 e de julho a agosto fecham às 18h00. Estas distinguem-se das restantes pela existência de pequenas salas ligadas entre si com algares monumentais, no caso das Grutas de Alvados, e pela sala única e gigantesca recheada de estalactites e estalagmites, no caso das Grutas de Santo António.
As Grutas de Mira de Aire, com uma extensão de 11km, foram descobertas em 1947. Estão abertas todos os dias. A organização, juntamente com a Junta de Freguesia de Fátima, afirma que este projeto é uma grande aposta da freguesia, “tentando mostrar aos turistas a beleza escondida destas grutas”.
Texto: André Elvas | Pedro Pinto | Rafael Paulo | Maria do Carmo Cordeiro | Bruno Lopes | Andreia Rosa | Federico Girolamo