First Breath After Coma: “Toda a gente sabe que viver da música em Portugal é muito difícil”

Roberto Caetano (voz), Telmo Soares (guitarra e voz), Rui Gaspar (baixo e voz), Pedro Marques (bateria e voz) e João Marques (teclas) são os rostos da banda leiriense First Breath After Coma. Formada em 2012, a banda já conquistou o público português assim como o estrangeiro. Vodafone Paredes de Coura, NOS Primavera Sound e Eurosonic, na Holanda, foram alguns dos palcos que já pisaram. Amanhã, vão estar no Teatro José Lúcio da Silva, com a sala já esgotada.

Como se conheceram e surgiu a ideia de criar a banda?

Roberto Caetano: Primeiramente só o Rui, o Telmo e o Pedro é que se conheciam, já tinham um projeto musical formado. Pouco tempo depois entrei eu e o João entrou a meio do primeiro álbum. Telmo Soares: Conhecemo-nos na escola e, a certa altura, estávamos à procura de um vocalista e um amigo falou-nos do Roberto. A banda surgiu da insatisfação com o que andávamos a fazer no primeiro projeto, queríamos começar de novo e tentar criar o nosso som, uma identidade. Nasceu assim um novo nome para o grupo.

Porquê o nome First Breath After Coma?

RC: O nome veio dessa insatisfação. Andámos cerca de um ano à procura dessa identidade e houve uma banda que conhecemos, os Explosions In The Sky, que nos abriu um leque enorme de referências, bandas e géneros musicais que desconhecíamos. Uma das primeiras músicas que ouvimos da banda foi First Breath After Coma. Para nós, fez sentido esse nome, como um novo começo. As nossas músicas começaram a sair, começámos a ficar satisfeitos com o rumo que as coisas estavam a levar. Para além disso, o nome foi escolhido pela mensagem forte que trazia.

Antes de formarem a banda já tinham formação na área musical?

TS: A nossa experiência vem apenas de tocar em garagens e noutros sítios, apenas o Pedro, o baterista, estudou jazz recentemente.

Qual a vossa inspiração na criação das letras?

RC: As letras passam muito por contar uma história através de sentimentos, emoções, coisas visuais, que nos fazem sentir algo, e não descrevê-la no sentido literal.

Como foi atuar no palco do NOS Primavera Sound?

TS: Foi incrível. Há três ou quatro momentos que nós descrevemos como picos dos últimos anos deste projeto e um deles é sem dúvida esse concerto. Foi um dos dias mais felizes da minha vida. Esse concerto foi especial, porque sentimos que já tínhamos público nosso, ao contrário dos primeiros festivais onde atuámos.

O que têm preparado para o concerto de amanhã no Teatro José Lúcio da Silva?

RC: Temos preparada uma estética de palco muito mais elaborada do que alguma vez tivemos, o que provavelmente será uma boa surpresa para quem já assistiu a mais do que uma atuação nossa. Nestes concertos especiais gostamos sempre de levar colaborações, neste caso, Rui Paixão e André Barros.

Qual é a vossa relação com esses artistas?

TS: O Rui Paixão colabora com a banda por via de um videoclipe, desde então foi uma simbiose, sempre quisemos tê-lo perto de nós. Identificamo-nos com a sua maneira de pensar. Em relação ao André Barros foi muito natural, pois ele é de Leiria e já o conhecíamos através da editora, e a certa altura surgiu da parte dele uma ideia para uma música nossa.

Como é atuar em casa?

RC: O Teatro está esgotado. É bom atuar em Leiria. São sempre muitos amigos e familiares. É espetacular atuar em casa, claro.

O que é para vocês a música?

TS: Temos tentado ter sempre no nosso conceito, e no nosso álbum, a ideia de que tudo pode ser música. Muitas vezes incluímos em certos temas pequenos sons de madeira a bater em ferro, por exemplo.

Tiveram algum momento caricato que tenha marcado um concerto?

RC: Temos muitos. Quando éramos uma banda recente, fomos tocar a uma festa organizada para pessoas entre os 40-60 anos. Tocámos quatro músicas e fomos escorraçados do palco. Esta foi uma das histórias mais marcantes. Mas nessa altura éramos muito imaturos. Hoje em dia é mais difícil acontecerem este tipo de coisas.

Tiveram algum momento caricato que tenha marcado um concerto?

RC: Temos muitos. Quando éramos uma banda recente, fomos tocar a uma festa organizada para pessoas entre os 40-60 anos. Tocámos quatro músicas e fomos escorraçados do palco. Esta foi uma das histórias mais marcantes. Mas nessa altura éramos muito imaturos. Hoje em dia é mais difícil acontecerem este tipo de coisas.

Como reagiram à nomeação para o melhor disco em 2016?

TS: Saiu em vários meios de comunicação do país e essa foi a parte que mais me surpreendeu. Foi um momento especial, é sempre bom receber prémios, saber que as pessoas reconhecem aquilo que tu fazes. E mais surpreendido fiquei com a reação das pessoas porque, de repente, foi o assunto mais falado na internet, e até hoje muitas pessoas falam disso. Portanto, é uma enorme alegria.

Conseguem eleger uma das vossas músicas como a preferida?

RC: São as que vamos fazer para o próximo álbum. Mas a tocar ao vivo e a atuar para as pessoas é diferente. Existem duas músicas que resultam muito bem em palco e que adoramos tocar, a Tierra Del Fuego: La Mar e Tierra Del Fuego: Nisshin Maru. São duas músicas pensadas com o mesmo conceito e a mesma história.

Qual o maior desafio ao nível da composição?

RC: Agradar a todos nós ao mesmo tempo. Cada um tem a sua opinião por isso temos de estar sempre em sintonia e conseguir entrar em consenso.

Que conselhos dariam a quem quer formar uma banda?

TS: Não é muito complicado. Se gostam de fazer música já é um primeiro passo. É incrível ganhar a primeira experiência a tocar músicas de outras bandas, mas assim que se sintam preparados é começar logo, e não perder mais tempo. Não tenham medo, façam coisas, seja pop, quizomba, de acordo com o vosso gosto, arrisquem.

Desenvolvem alguma atividade profissional para além da banda? Como conciliam?

RC: No meu caso foi mais difícil, porque sou o mais velho da banda. Já tinha mais liberdade, era responsável por mim. Chegou um ponto que estava na banda e a estudar terapia da fala no IPLeiria e trabalhava. A banda foi crescendo e tive de cortar algumas coisas para ter tempo. Neste momento estou a trabalhar para a editora.
TS: Estamos a tentar viver disto, mas toda gente sabe que viver da música em Portugal é muito difícil. Atualmente eu, o Pedro e o Rui, como estudámos audiovisual, cinema imagem e som, temos ferramentas para conseguir trabalhar nesta área e criámos uma produtora audiovisual independente. Assim, quando estamos em tournée temos a liberdade de fazer os nossos próprios vídeos, e estar a trabalhar com música e vídeo ao mesmo tempo é excelente.

Estão a trabalhar para o novo álbum?

RC: Ainda não estamos a cem por cento. Estamos a pensar em alguma coisa, mas só vamos começar o terceiro álbum no primeiro semestre de 2018.

Que planos têm para o próximo ano?

TS: Por agora, é este. Trabalhar para o próximo álbum, tentar não ter outras coisas para fazer, se não vamos estar sempre a adiar.
RC: Para além de saúde e dos típicos desejos, que tudo corra bem. Que o álbum saia e que as coisas deem certo.

Texto: Maria Coutinho e Mariana Santiago