Portugueses que se encontram fora do país a realizar Erasmus ou estudantes internacionais a estudar em Portugal, alunos de três nacionalidades contam como é estudar e viver fora do país de origem e como vão passar o Natal numa nova cultura.
Com o objetivo de desenvolver competências linguísticas, conhecimento sobre novas culturas e desenvolvimento pessoal, Eliane Luo, Patrícia Li, Tatiana Quiróz e Juan Merino embarcam na aventura de vir estudar em Portugal.
Naturais da China, Elaine Lu e Patricia Li frequentam o segundo ano de Língua Portuguesa Aplicada na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais (ESECS). Tatiana Quiróz e Juan Merino candidataram-se ao curso de Comunicação e Media e chegaram este ano do Equador em busca de novas oportunidades.
Este ano o Instituo Politécnico de Leiria recebeu alunos com 61 nacionalidades distintas. Os estudantes internacionais representam 10% do universo dos estudantes do IPLeiria e, somados, totalizam cerca de 1200 alunos. Os principais países de origem são Brasil, Equador e China.
Eliane Lu, 21 anos, está há um ano e meio em Portugal. Como já tinha aprendido a língua portuguesa anteriormente e ganhou gosto pelo idioma, escolheu o curso que lhe ofereceu a possibilidade de explorar a área e assim aprofundar os seus conhecimentos. “A oportunidade de vir para fora assustou-me um pouco”, admite a jovem, mas o facto de querer conhecer uma cultura diferente levou-a a arriscar. Com o passar do tempo num novo país, a estudante chinesa notou algumas diferenças culturais, em termos de gastronomia e relacionamentos sociais. “As pessoas são muito simpáticas, enquanto os chineses são mais reservados”, declara Eliane. A aluna confessa também que, apesar dos portugueses serem um povo acolhedor, não deixa de haver pessoas que são frias e menos atenciosas. Contudo, sente-se integrada e feliz com a escolha que fez.
Boas festas em português
Em período natalício, os estudantes internacionais deparam-se com a opção de permanecer com o país que os acolheu ou voltar para o seu país de origem. Eliane decidiu passar a época natalícia em Portugal, em Leiria, com uma colega. “Os meus colegas já me tinham dito que o Natal em Portugal era passado com muita animação e junto dos familiares”, explica, referindo os motivos que a fizeram decidir ficar. É com entusiasmo que indica querer e experimentar algumas das tradições portuguesas, como comer bacalhau na noite da consoada. Na China, refere Eliane, o Natal não tem tanta importância e é sobretudo celebrado nas ruas entre amigos.
Outra aluna do curso de Língua Portuguesa Aplicada, Patrícia Luo, de 21 anos, elegeu Portugal há um ano como destino de estudos, por querer aprender a língua. Após ter chegado ao país, as primeiras impressões que teve foram positivas. “O país é acolhedor, muito limpo, a temperatura é agradável, assim como a gastronomia”, afirma a jovem chinesa. O facto de poder interagir com os portugueses é uma mais-valia, pois ajuda a aprender e a desenvolver melhor as suas competências linguísticas. Por já ter passado a anterior época natalícia em Portugal, Patrícia Luo conhece alguns dos costumes festivos do país. “Os portugueses cantam canções de Natal, comem bacalhau e peru, e passam a noite em família”, recorda a estudante. Confessa que passar a consoada longe da família vai provocar saudades, porém, não será um grande obstáculo para a aluna. Vai celebrar o Natal em Évora com os seus colegas. Os seus planos incluem fazer paraquedismo e passar um tempo descontraído e divertido com os amigos.
Um ano repleto de novas experiências
Para os alunos oriundos do Equador, Tatiana Quiróz e Juan Merino, sair do país para completar os estudos académicos sempre fez parte dos planos. Ambos concordaram que estudar Comunicação num país como o Equador não seria uma opção viável, quer pela forte pressão sobre os órgãos de comunicação, quer pelo menor desenvolvimento da área científica.
Tatiana Quiróz, de 18 anos, afirma, entuasiasmada, que não hesitou vir para Portugal. A jovem estava decidida a ir para a Colômbia quando apareceu a oportunidade de estudar em Portugal. O IPLeiria foi o instituto que a aluna elegeu. O curso de Comunicação e Media era uma escolha óbvia dada a sua preferência pela área do Jornalismo. Apesar de só estar há alguns meses no país, na cidade de Leiria, Tatiana Quiróz diz que desde do início se sente integrada e todos os seus colegas são bastante prestáveis. Acrescenta ainda que “os estereótipos de as pessoas ocidentais serem frias está completamente errado. O português tem vindo a provar ser um povo amigável”.
O Natal é para Tatiana Quiróz uma das épocas que mais aguarda no ano. A estudante afirma que é o segundo ano que vai passar o Natal longe da família e de casa, uma vez que tem aproveitado para viajar e conhecer outras culturas. Este ano não será exceção. A aluna revela já ter planos para a consoada. “Vou passar o dia com os meus amigos, em Leiria. Vamos criar um ambiente natalício agradável e comer o famoso peru”.
Juan Merino, de 19 anos, sempre gostou de Comunicação e, por isso, escolheu um curso onde pudesse aprender e saber mais sobre a área. “Tenho amigos a estudar no IPLeiria e isso facilitou o meu processo de escolha e mudança”, afirma o estudante. Apesar de estar há quatro meses em Leiria, Juan Merino reconhece algumas diferenças a nível cultural. “Portugal é um país muito evoluído. A mentalidade das pessoas é diferente e de início pensei que o povo fosse frio, mas percebi que são um povo prestável e agradável”, através das relações sociais que tem estabelecido.
Este será o primeiro Natal que o jovem passa fora de casa. O estudante preferiu passar o dia 25 de dezembro em Leiria com os amigos. “Por ser maior de idade e ter passado todos os anos esta época festiva com a minha família e viver uma nova experiência”. Mesmo já sentindo saudades do seu país, Juan Merino, está convencido que vai ser uma ótima experiência. Apesar de tudo, os estudantes explicam que os rituais de Natal são muito parecidos. Na consoada não há bacalhau, mas é habitual comer frango ou peru no forno. Também não há bolo-rei, mas nas mesas não falta o pan de pascua, um pão doce com frutas.
Cortar o cordão umbical
Mais de uma centena de estudantes do IPLeiria integram o programa Erasmus+. O número de alunos que viaja para países europeus cresce todos os anos, assim como as escolas superiores e as empresas que os recebem. Ana Boaventura e Ana Silva, colaboradoras do Gabinete de Mobilidade e Cooperação Internacional do IPLeiria, chamam a atenção para a experiência rica a nível curricular, cultural, profissional e, sobretudo, pessoal que a experiência Erasmus proporciona. “As pessoas crescem, amadurecem, ganham responsabilidade ao contactar com um idioma e uma cultura diferentes”, assegura Ana Silva.
Os alunos também enfrentam dificuldades quando decidem fazer Erasmus. Para Ana Boaventura, o maior desafio do Erasmus é fazer face aos custos financeiros que a iniciativa acarreta, já que a bolsa atribuída não abrange todas as despesas. Além disso, os portugueses são muito apegados às suas famílias, por isso é difícil “cortar o cordão umbilical”, acrescenta Ana Boaventura. A colaboradora, com 20 anos de casa, relembra como foi complicado o processo para os primeiros estudantes. No presente, depois da primeira semana de adaptação, os alunos desfrutam a experiência ao ponto de a quererem repetir.
Natal em Erasmus
No seu último ano de Comunicação e Media, Márcio Lima encontra-se a fazer Erasmus na Polónia. “Um dia, numa conversa entre amigos, decidimos que íamos fazer Erasmus”, relata o estudante. O aluno de 20 anos admite que a experiência Erasmus sempre fez parte dos seus planos. Escolheu a Polónia porque percebeu em conversa com outros amigos que o ambiente académico na cidade era agradável.
Márcio notou algumas diferenças quando chegou ao país. “As pessoas são muito mais frias do que em Portugal, nem sempre estão dispostas a ajudar.” Além disso, o jovem afirma serem visíveis os sinais de um passado comunista, sobretudo ao nível arquitetónico. E embora se sinta integrado na comunidade Erasmus, onde já criou inúmeros laços de amizade, assume que não escolheria a Polónia para viver.
Para Márcio Lima, a mais-valia do Programa Erasmus é a possibilidade de os alunos poderem amadurecer ao contactarem com uma nova cultura e ao viverem sozinhos. O estudante está à procura de novas experiências e, por isso, pensou que seria uma ótima oportunidade passar o Natal na Polónia. Revela desconhecer as tradições natalícias do país, mas está disposto a descobrir. Ainda não tem planos para a consoada, mas espera passá-la “com uma família diferente”.
Texto: Adriana Silva, Andreia Rodrigues, Catarina Rodrigues