Armando José Nunes Duarte, mais conhecido por Sr. Armando, tem 66 anos e foi outrora um freelancer que fazia algumas reportagens, nas suas palavras, “com pouca relevância”. Nunca teve carteira profissional, mas experimentou o jornalismo nos conturbados anos a seguir ao 25 de abril. “Fazia, maioritariamente, a cobertura de eventos desportivos, jogos de futebol, voleibol e até mesmo caiaque, algo que a maioria considerava desprestigiante”, refere.
Em 2018, é o motorista da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Politécnico de Leiria (ESECS). O carro é o seu escritório. O Belenenses uma das suas paixões, emblema do qual já foi dirigente. Trabalhou em órgãos como o Jornal Novo, conhecido pelas fotomontagens durante a Revolução de Abril, onde a principal função era analisar os trabalhos dos jornalistas para detetar erros, caso existissem. Essa análise era feita com recurso a uma grelha e régua.
Como muitos dos restantes homens da época, Armando Duarte cumpriu serviço militar na guerra do Ultramar. Os tempos mudaram e os temas que dominam hoje o espaço público são outros. Até mesmo quando se fala de jornalismo. “O Jornalismo atual é feito na hora. Nós, agora, compramos um jornal e muito pouco tempo depois já está desatualizado. Se eu agora disser algo, daqui a cinco minutos já estou desatualizado”, comenta.
A velocidade e a intensidade da informação transformaram as relações das pessoas. As diferenças são muitas. E a principal, afirma, é a Internet, “uma ferramenta que origina certas condutas tidas como menos próprias, devido ao imediatismo do universo jornalístico”.
Defende que muitos profissionais da área acabam hoje centrados em assuntos levianos e invasivos da esfera pessoal de cada um, algo que não suporta: “O austero e insuportável sensacionalismo de órgãos de informação como a Bola ou a CMTV ultrapassa os limites. Isso era impensável na minha altura. Fazia-se um jornalismo mais sério”.
Para o Sr. Armando, as diferenças são de tal forma gritantes que até acabam por promover uma mais regular revisitação do passado. E logo vem à memória a lentidão com que se escrevia e lia, além dos constrangimentos do Estado Novo, como a censura e outras questões que limitavam a vida das pessoas.
Texto: Beatriz Martins