Mandy: Um obscuro alternativo

Mandy, o filme de Panos Cosmatos, poderia facilmente ser considerado uma cacofonia visual composta numa história simplista, concretizada sobre a fama do casting. Mas a história é outra. O guião de Cosmatos e Aaron Stewart-Ahn aproxima-se talvez mais de uma viagem do que de uma película para as salas de cinema. Após Beyond the Black Rainbow, Cosmatos estrutura em três partes uma crónica de vingança, com cenas reminiscentes do filme Hellraiser, bem ao estilo dos anos 70.

A trama desenvolve-se em torno de um casal, Mandy e Red, desempenhados por Andrea Riseborough e Nicolas Cage, que vivem sozinhos no meio do bosque. O casal é apresentado num ambiente espiritual e simbólico, com temas associados à astrologia, num clima intimista e de cumplicidade. Essa atmosfera é interrompida quando um culto extremista pontuado por motociclistas e psicopatas enlouquecidos atravessa a vida de Mandy.

O líder Jeremiah Sand (Linus Roache) deseja possuir Mandy e serve-se de motoqueiros, com poderes sobrenaturais, para ordenar um rapto que a coloque à sua disposição, de corpo e alma. A história desenvolve-se após um acontecimento trágico na vida do casal, que conduz Red a uma vingança sanguinária.

Os espaços e planos cuidadosamente trabalhados, assim como as luzes carregadas de simbolismo, concretizam a dimensão visual da obra, levando a que muitas cenas pudessem originar múltiplos fotogramas independentes. A banda sonora, com faixas de Crimson King, desenvolve-se ao sabor das correntes alternativas do indie rock.

Trata-se, afinal, de uma película baseada no mundo dos psicotrópicos ou, numa interpretação mais artística, da espiritualidade e simbolismo extremos. Mandy não deixa o espetador indiferente, seja por ódio a esse mundo ou pelo fascínio do trabalho cinematográfico.

 

Texto: Catarina Marques