Tiger King: Murder, Mayhem and Madness

Traduzida como “Máfia dos Tigres”, em português, estreou na primeira semana de quarentena e é uma das séries documentais mais faladas da Netflix. Trata-se de um documentário sobre as centenas de tigres, leões e outras espécies exóticas mantidas em cativeiro no quintal de Joe Exotic, em Oklahoma, nos Estados Unidos.

A personagem Joe Exotic, de 50 anos, ou, como se autoproclama, Tiger King, é o administrador do Zoo em conjunto com alguns amigos amantes de animais exóticos. Tiger King destaca-se por ser uma pessoa fora do comum, tornando-se uma celebridade na América devido ao facto de manter estes animais selvagens em exibição, mas também por travar frequentes lutas judiciais contra protetores dos animais.

A sua grande rival é Carol Baskin, dona de um santuário de tigres e defensora dos direitos dos animais. Com o decorrer dos episódios, percebe-se que o exótico Joe pode encaixar no perfil de um indivíduo perturbado. A transformação do personagem sugere esse sentido. No princípio, preocupa-se muito com os seus animais. No final, apenas é movido pela ânsia de ser famoso.

A série é muito interessante, pois apresenta um personagem diferente do habitual: retrata uma pessoa do interior dos EUA, considerado um “redneck”, gay, num casamento a três e com uma fixação por tigres e armas. A essa fixação soma-se uma vontade gigantesca de ser famoso. A maneira séria com que o documentário aborda cada personagem é também um ponto importante, uma vez que, apesar das coisas bizarras que os indivíduos fazem, o modo como são representadas não assenta em juízos críticos ou ridicularizantes. Isso permite perceber o quão perdidas as pessoas estão na tentativa de serem famosas, ao ponto de cometerem crimes para atingir os seus objetivos.

Apesar de tudo, o programa tem alguns defeitos, como o facto de a narrativa, no princípio, ser bastante inconstante por mudar o foco várias vezes, tornando-se confusa. Podiam explorar-se mais algumas personagens, como Doc Antle, antigo membro da máfia que estava envolvido nas atividades que Joe realizava no Zoo. Além disso, a série cria um clima de suspense e tensão que, no final, acaba por apresentar um desfecho inconclusivo. Fica a sensação de que há um excesso de informação, muitos pormenores para assimilar, pelo que poderia ter sido mais interessante acrescentar um ou dois episódios. O documentário apresenta imagens fortes, com violência e maus tratos de animais, podendo ser algo perturbador para espetadores mais sensíveis.

Texto: Nuno Vieira | Rodrigo Pereira | Ruben Rodrigues