Covid-19: Que impacto ambiental?

“É fundamental uma educação ambiental, mas mais do que isso uma educação cívica”, explica Mário Oliveira, presidente da OIKOS – Associação de Defesa do Ambiente e do Património da Região de Leiria e professor de Educação Ambiental da ESECS, a propósito do atual uso de máscaras descartáveis. “As máscaras que se encontram no chão irão chegar aos oceanos, entrar na cadeia alimentar dos animais marinhos e futuramente na nossa alimentação”. A World Wide Fund for Nature (WWF) estima que, apesar de apenas 1% das máscaras ser descartado de forma inapropriada, isso corresponde a 40 toneladas de plástico que chegam aos oceanos.

A sustentabilidade ambiental do planeta tornou-se ainda mais relevante no atual contexto da pandemia. Na versão descartável, este equipamento de proteção individual tem um período de utilização curto e é composto por cerca de quatro gramas de plástico, o que envolve a exploração de petróleo, um recurso escasso e não renovável. Por outro lado, a eliminação destas máscaras após o seu uso também levanta questões ambientais. A incineração, uma das soluções habituais, liberta gases nocivos, quer para o ambiente, quer para a espécie humana, tornando-se num problema adicional.

A viagem deste produto não reciclável termina, muitas vezes, nos aterros sanitários. Tem vindo a identificar-se a presença de máscaras descartáveis nos filtros de entrada de água, o que permite concluir que há despejo diretamente na via pública ou, por exemplo, em esgotos domésticos.

Susana Fonseca, secretária da ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável, explica que têm sido discutidas medidas políticas junto das entidades governamentais para que o uso de material descartável seja ponderado. Para a ambientalista, a adaptação de algumas empresas durante a fase de confinamento não teve em conta o impacto ambiental das soluções escolhidas. “A restauração reinventou-se através das refeições take-away, causando um pico do consumo de plástico”. Em relação aos cabeleireiros, Susana defende que “não faz sentido o uso de toalhas e batas descartáveis quando o recurso à água e sabão resolvem, tal como fazemos com a lavagem das mãos”.

De forma a minimizar o impacto e consciencializar a comunidade quanto às consequências do inadequado uso e eliminação da máscara, a ZERO, a Associação de Ciências Marinhas e Cooperação e a Associação Natureza Portugal apelam à utilização racional de máscaras descartáveis através da campanha “Não sufoque a Natureza”, afirmando que as alternativas reutilizáveis são uma opção a considerar.

Ainda assim, a consciencialização ambiental das pessoas é essencial na escolha de máscaras reutilizáveis, num contexto em que as empresas produtoras destes acessórios estão a adaptar-se. Mário Oliveira alerta para os perigos de se “privilegiar a estética”, sem considerar o impacto para o ambiente. “Existem indústrias têxteis a produzir máscaras cujo padrão está de acordo com o vestuário, com todo o processo de emissão de gases já conhecido deste setor”, reforça o professor.

Texto: Catarina Nogueira | Mariana Bento | Mariana Gabriel
Foto: Vera Davidova | Unsplash