O Programa 60+ tem algo que o distingue: a inclusão de estudantes seniores junto de estudantes mais jovens. Em contexto de pandemia, porém, as aulas online não foram tarefa fácil. O objetivo do Programa 60+, nascido em 2008, na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais (ESECS) do Politécnico de Leiria, é contribuir para um processo de envelhecimento ativo e saudável, direcionado a pessoas com mais de 50 anos em situação de reforma ou pré-reforma. Luísa Pimentel é a atual coordenadora do projeto que tem levado o nome do Politécnico de Leiria além-fronteiras.
Em outubro de 2019 o Programa 60+ integrava 110 estudantes seniores, número reduzido para 37 no início do ano letivo seguinte, já durante a pandemia. Luísa Pimentel, também professora na ESECS e investigadora, afirma ter tido “receio que a continuidade do programa fosse posta em causa”. “Rapidamente percebemos que as pessoas não estavam preparadas para as atividades à distância, apesar de a maioria conhecer as ferramentas digitais básicas. Por outro lado, ficaram assustadas e isolaram-se bastante”, refere a coordenadora.
Ao longo do ano letivo, o número de alunos diminuiu ainda mais, chegando a registar-se apenas 26, mas a necessidade de equipamento para assistir às aulas online não foi o principal fator de desistência. Os alunos apresentavam sempre um amigo ou familiar disposto a ajudar, não tendo sido endereçados pedidos de equipamento à ESECS. De acordo com uma pesquisa realizada pela coordenação sobre o impacto da pandemia na participação dos estudantes, a falta de motivação, a falta de competências na área das TIC e os problemas pessoais foram os motivos referidos com mais frequência por quem decidiu desistir.
Não foi o caso de Natália Marques, 62 anos, já familiarizada com o seu computador pela força da profissão. Apesar de não ter sido “uma coisa pacífica [as aulas online]”, conseguiu adaptar-se facilmente. Contudo, Natália garante que “nada substitui o contacto cara a cara, as aulas em sala, o convívio, os almoços ou o lanche, o café ou uma conversa nos intervalos das atividades”. “A possibilidade de continuar a aprender” é o que agrada mais à estudante, que já se encontra inscrita no próximo ano letivo. “Espero que este seja um ano mais «normal», sem necessidade de interrupções, e que possamos desenvolver todas as atividades previstas no Programa 60+”, refere. Mariana Pereira, 78 anos, viveu o oposto de Natália. “De princípio achei interessante, mas com o seguimento das aulas veio o cansaço; a falta de convívio presencial fez-me cair na insatisfação e a depressão fez-se sentir”, desabafa a estudante que há dez anos integra o Programa 60+. Apesar do cansaço, Mariana gostaria de poder continuar.
O contexto obrigou também a alterações dos programas das disciplinas e, nesse sentido, “os professores tiveram um papel de extrema importância na adaptação dos conteúdos e dos métodos pedagógicos, mas, especialmente, na motivação dos estudantes”, defende a coordenadora do Programa 60+. “Tinha de haver uma disponibilidade para esclarecer dúvidas relacionadas com as plataformas digitais e com o acesso aos conteúdos que ia muito para além do tempo de aula”, acrescenta. Neste capítulo, Luísa Pimentel sublinha ainda o “papel importante” de Ana Cunha, colaboradora do Programa 60+, no apoio à adaptação digital pois, “com muita regularidade, ajudava as pessoas a entrar nas sessões Zoom, com indicações pelo telefone”.
Paralelamente às aulas online, o Programa 60+ tentou, “sempre que possível, desenvolver iniciativas que trouxessem as pessoas de volta à escola”, através de inscrições prévias. “Este modelo híbrido (online e presencial) exigia um maior esforço por parte dos professores, que tinham de dar atenção às pessoas em sala e às que acompanhavam através do Zoom. Procurámos garantir as condições técnicas de transmissão, que permitissem uma boa qualidade de receção a quem estivesse em casa, mas nem sempre isso foi possível”, lamenta a investigadora.
O primeiro encontro presencial do Programa 60+ deu-se no jardim da ESECS, a 24 de junho deste ano, com um lanche partilhado, para assinalar o encerramento do ano letivo e agradecer às estagiárias envolvidas no projeto. Poucos dias depois, aconteceu uma visita ao Castelo de Leiria, esta com mais adesão, em que, segundo Luísa Pimentel, “as pessoas estavam muito animadas”.
No presente ano letivo as perspetivas são “positivas”, apesar de não se prever atingir os níveis de frequência dos anos anteriores à pandemia. Ainda assim, já se encontram inscritos 52 estudantes, numa estreia para oito deles, o que tem superado as expectativas dos envolvidos no projeto. O funcionamento continua a privilegiar a ligação entre estudantes seniores e estudantes mais jovens através da participação em aulas dos cursos de Licenciatura e dos Cursos Técnicos Superiores Profissionais (CTeSP) do Politécnico de Leiria, sendo uma das condições de frequência do programa. São também dinamizadas atividades, de caráter pago ou gratuito, dirigidas apenas aos estudantes seniores.
Para Luísa Pimentel, o futuro do Programa 60+ passará por inovar a oferta, porque existem alunos que o frequentam há vários anos. A “diversidade de interesses e de conhecimentos de base dos estudantes seniores” apresenta desafios na gestão de aulas e no domínio dos conteúdos e matérias lecionadas. Também por esse motivo, é contemplado agora o alargamento da oferta em modelos de ensino online e híbrido, permitindo alargar as atividades a outros públicos. O Book Club (“Clube de Leitura”, em inglês) e as Conversas de Fim de Tarde (conversas sobre temas diversos com a presença de um orador convidado) são, respetivamente, alguns exemplos que podem cumprir com esta intenção do programa. O último desafio consiste em divulgar e projetar o Programa 60+ no exterior e na comunidade académica, dado que, para a coordenadora, continuam a existir muitos alunos e professores que o desconhecem.
Quanto aos desafios que o futuro trará em matéria do envelhecimento, Luísa Pimentel reforça a importância de formar mais jovens nesta área, visto ser um “público exige preparação, conhecimento das suas necessidades e interesses”.
Texto: Valentina Guedes
Fotos: Site oficial do Programa 60+