Qual o significado da palavra ‘carsoscópio’? Existe alguma relação entre os morcegos, a cortiça e o vinho? Como se caracteriza a evolução do Maciço Calcário Estremenho? No Centro de Ciência Viva de Alviela é possível encontrar a resposta a estas e a outras perguntas relacionadas com a água, os morcegos e as regiões de rochas calcárias. Além de exposições e diversas atividades para o público em geral, o Centro pretende suscitar o interesse da comunidade escolar pela ciência, a tecnologia e o ambiente.
O Centro de Ciência Viva de Alviela-Cardoscópio fica localizado em frente à praia fluvial dos Olhos d’Água, no concelho de Alcanena. A paisagem enfatiza a serenidade e tranquilidade da natureza que rodeia e carateriza o ambiente do Centro. O som dos alunos a brincar e a conversar pode ser ouvido. É mais um dia de visitas escolares. Organizados, os alunos do 3.º ciclo deslocam-se para uma aventura educativa, mas sobretudo interativa.
O Centro, inaugurado a 15 de dezembro de 2007, faz parte da Rede Nacional de Centros Ciência Viva, constituída por 21 espaços espalhados por Portugal continental e ilhas. O objetivo principal do Centro é a divulgação científica e tecnológica, de forma a aproximar a ciência da comunidade. Desempenha uma ação multidisciplinar, tanto para as escolas como para o público em geral. São três as principais temáticas abordadas: a água, o carso e os morcegos, todas com exposições interativas específicas.
O carso está ligado ao nome do Centro e “carsoscópio” é uma palavra inventada pela equipa, que significa o observatório do carso, explica a bióloga e colaboradora Maria João Silva.
A designação de carso é dada ao relevo de regiões onde predominam rochas calcárias, inserindo-se o concelho de Alcanena numa das mais importantes zonas cársicas de Portugal, o Maciço Calcário Estremenho. A maior nascente cársica, a nascente do Alviela, é outra vertente das exposições do Centro, tal como os morcegos, devido à proximidade a um dos mais relevantes habitats de morcegos em Portugal, na Lapa da Canada. A observação desses habitats constitui um dos motivos de interesse científico associados ao Centro de Ciência Viva.
O Observatório dos Morcegos Cavernícolas é um projeto pioneiro e inovador em Portugal, que visa estudar e compreender os morcegos, além de procurar sensibilizar o público em geral para a importância destes animais.
A gruta conta com mais de 5 mil morcegos cavernícolas. A designação é dada porque utilizam as grutas como abrigo. Além disso, estes morcegos “vêm a estas grutas para ter as suas crias, é um abrigo de maternidade, só há fêmeas e crias”, explica Maria João. É um habitat protegido, não só em Portugal, mas a nível internacional. Neste abrigo cavernícola, estão identificadas 12 das 28 espécies existentes em Portugal, sendo que nove destas estão em perigo de extinção. Por isto, é um abrigo com grande importância nacional.
Em Portugal, os morcegos são todos insetívoros (alimentam-se de insetos), por isso têm um papel fundamental no ecossistema, enquanto controlo de pragas. Trata-se de uma variedade de insetos e pragas que afetam a cortiça e o vinho, grandes setores da área de produção portuguesa. A importância e o impacto dos morcegos, a nível deste controlo, “é tão grande que todas estas espécies têm um contributo enorme, sem o percebermos”, realça a bióloga. A espécie mais pequena, o morcego anão, por exemplo, “que tem cerca de quatro centímetros, pode comer mais de mil mosquitos por noite’’, acrescenta.
No interior do abrigo estão cinco câmaras de infravermelhos que possibilitam a observação dos morcegos 24 horas por dia. O objetivo é, através do seu comportamento, “estudá-los, compreendê-los, para saber que medidas precisamos de tomar para os proteger”, realça a bióloga que não deixa escapar a oportunidade para dizer: “Quando temos a sorte de apanhar um nascimento ao vivo, é um espetáculo”.
Segundo Maria João Silva, o comportamento social dos morcegos “é muito organizado”. Os morcegos têm apenas uma cria por ano e favorecem a criação de “creches”, sendo que “as fêmeas têm as crias em simultâneo”. As mães ficam a “vigiar enquanto vêm cá fora [da gruta] alimentar”, acrescenta a bióloga.
É uma estrutura organizada que se apoia mutuamente, algo que gera empatia por parte do público que visita o Centro, “por acharem que os morcegos têm comportamentos parecidos aos nossos”, reforça. Depois de as crias se tornarem independentes, vão para os abrigos de hibernação durante o inverno, pois hibernam.
As atividades realizadas sobre estes mamíferos desenvolvem-se com o intuito de demonstrar a importância dos morcegos no ecossistema, tal como a relevância da preservação destas espécies. Entre as dinâmicas propostas aos visitantes, destacam-se a possibilidade de ouvir como os próprios morcegos ouvem, através da ecolocalização, ou de ver uma réplica da gruta da maternidade.
O jornal Público, em parceria com o Centro Ciência Viva, vai apresentar um projeto que visa consciencializar para a conservação dos animais. As imagens transmitidas pelas câmaras do observatório dos morcegos vão estar disponíveis em direto, no site do jornal, 24 horas por dia.