Flávio Andrade, nascido em Pinhal Novo, em Setúbal, é fotógrafo, fotojornalista e artista visual, papéis a que se junta o de formador no CENJOR – Centro Protocolar de Formação Profissional de Jornalistas. Já publicou cinco livros e em 2017 fundou uma editora. A sua mais recente formação foi o curso “Seeing Through Photographs”, realizado no Museu da Arte Moderna em Nova Iorque. Pela lente da sua máquina já passaram registos de várias áreas, desde fotografia de produto a moda, mas é na fotografia autoral que se sente “em casa”
Apesar de considerar que a metodologia de trabalho relacionada com a fotografia autoral é “muito idêntica” à do fotojornalismo, existe, nesta última, uma limitação à subjetividade. “O que vemos é o que estamos a dar a conhecer ao leitor”, explica.
Para Flávio Andrade, a fotografia “nasce antes da câmara fotográfica”, estando a natureza da fotografia na essência do próprio autor. Exemplo disso é a exposição “Vago”, um conjunto de 19 autorretratos Polaroid que se faz acompanhar de um vídeo performativo, interpretado pelo fotógrafo, com uma banda sonora imersiva e criada propositadamente para esta mostra. A exibição realizada na Galeria Banco das Artes, em Leiria, propõe uma reflexão sobre o “movimento e a incerteza” num lugar “incomum, vago e íntimo”.
“Vago” é uma das intervenções artísticas que integram o portefólio de Flávio Andrade, repleto de trabalhos que “desconstroem a imagem que temos de nós mesmos” ao “por-nos a pensar”, através de um imaginário de arte que “não é bonito nem feio, é aquilo que é”.
Quanto aos desafios de pensar a arte e o mundo na atualidade, o fotógrafo destaca a tendência para manter uma neutralidade, que limita a criação. “O politicamente correto não está a trazer-nos nada de bom, está a tornar-nos demasiado conservadores. Não estamos a chegar à essência, mas a afastar-nos dela”, defende.
Enquanto professor, aconselha os seus alunos a criarem: “O estado criativo não precisa de qualquer suporte, basta existir”. A expressão artística não existe sem liberdade e esse é, para Flávio Andrade, um elemento central. “A criação deve ser um ato de liberdade e não devemos deixar que ela seja propagandeada de uma forma pornográfica. A liberdade não está na rua, está dentro de nós”, conclui.
Texto e fotos: Isaque Fernandes | Valentina Guedes