Mónica Barros: “O meu trabalho é desafiante porque nunca quis trabalhar em televisão e estou a fazê-lo”

Natural da Marinha Grande, mas a residir atualmente em Lisboa, Mónica Barros, de 28 anos, repórter e coordenadora de redação no canal Sporting TV, licenciou-se em Ciências da Comunicação na Universidade Técnica de Lisboa e obteve uma Pós-Graduação em Jornalismo Multiplataforma, pela Universidade Nova de Lisboa.

O jornalismo foi sempre o seu sonho?
Desde cedo percebi que tinha mais apetência para a comunicação por gosto e por exclusão das restantes opções através dos testes psicotécnicos realizados na escola e fora dela também. Tudo indicava que era na comunicação que iria ter sucesso. Para não me limitar apenas ao jornalismo, porque era, à partida, aquilo que eu mais gostava, não televisão, mas sim o jornalismo escrito, acabei por ir para um curso mais global, como é o caso de Ciências da Comunicação, até porque não queria fechar portas porque poderia seguir relações públicas, marketing, comunicação empresarial, publicidade, etc. E mais tarde optei por me especializar em Jornalismo Multiplataforma porque queria ter a certeza de que era o jornalismo que eu queria. Não sei se o jornalismo foi paixão à primeira vista, mas a comunicação sim.

Como é que foi deixar o conforto da família e entrar sozinha no mundo novo que é Lisboa?
Eu tinha ainda 17 anos e confesso que foi um desafio giro porque era muito ligada aos meus irmãos e à restante família. Mas como ainda jogava andebol, acabava por ir todos os fins de semana para a Marinha Grande. Porém, atualmente é mais difícil porque só consigo ir uma vez por mês. Ser jornalista implica muitas vezes trabalhar aos fins de semana, o que significa que não dá para ir a casa tantas vezes. Portanto, considero que agora está a ser muito mais difícil do que quando fui para a faculdade.

Depois de trabalhar como jornalista estagiária para vários órgãos de comunicação social, como o Record, a SIC, o Expresso, CARAS e Visão, quando e como surgiu a Sporting TV?
Durante três meses estagiei na Record, ainda durante a licenciatura, pois queria perceber se o jornalismo era aquilo que eu realmente ambicionava, e, por isso, fiz uma candidatura espontânea. Mas acabei por odiar porque estava no online e tinha de fazer muitas galerias de raparigas mais despidas, tinha atualizar resultados, etc. Ou seja, não era propriamente fazer jornalismo e assim que acabei este estágio fiquei com imensas dúvidas, daí ter ido fazer a Pós-Graduação em Jornalismo Multiplataforma, e surgiram esses estágios todos, porque, no fundo, a ideia era mesmo essa: experimentar rádio, televisão, o online, a escrita, etc. No entanto, os estágios de que mais gostei foram no Expresso e na Visão porque foi onde realizei reportagens e sentia-me mais independente. Graças aos imensos contactos que fiz na faculdade, quando estava a acabar o último estágio, na Renascença, uma colega de faculdade disse-me: “Mónica está para abrir canal da Sporting TV e, como gostas de desporto e já experimentaste televisão, manda para lá o currículo”. Foi assim que aconteceu. Mandei para lá o currículo e acabou por correr bem, estou lá há 7 anos e meio.

Como foi o seu percurso de jornalista na Sporting TV até ser convidada para coordenadora de redação?
O facto de ser um canal com uma dimensão muito mais pequena do que a SIC ou a TVI, obriga-nos desde cedo a fazer um pouco de tudo, isto é, eu comecei por ser jornalista: fazia reportagens, ia ao terreno, etc. Não gosto de aparecer. Gosto de ir para a rua fazer reportagens e, em casa, as pessoas não saberem se fui eu ou outro colega meu. Passado pouco tempo de lá estar, surgiram duas propostas relativamente à apresentação de notícias e de um programa direcionado para as modalidades que eu acabei por aceitar, numa de ganhar experiência. O atual diretor do canal propôs-me que assumisse o cargo em questão, mas como era nova senti que precisava de ganhar mais experiência. Há relativamente poucos meses, a pessoa que estava a desempenhar esse cargo saiu do canal e, ao invés de contratarem outra pessoa, falaram comigo e eu acabei por aceitar. Mas, na verdade, não sou coordenadora a tempo inteiro, apenas faço as folgas do coordenador principal, pois continuo a exercer todas as funções que fazia antes de ser convidada para este cargo, o que por um lado é ótimo e, por outro, tem as suas desvantagens.

E quais são essas desvantagens?
As maiores desvantagens – que não são exclusivas do cargo de coordenadora, mas sim de ser jornalista, e que eu antes não sabia -, é ter muitas vezes horários noturnos. O facto de não estares em concordância com os horários das outras pessoas mexe muito com a tua vida pessoal. Outra desvantagem é não conseguires ter um estilo de vida saudável, pois esta profissão obriga-te a fazer refeições muito rápidas. Aliás, muitas colegas que fui fazendo ao longo da minha experiência no canal acabaram por sair por não se conseguirem adaptar ao estilo de vida de jornalista.

Como consegue ser imparcial ao falar de assuntos relacionados com desporto?
Em todos os órgãos [de comunicação social], quer seja a SIC ou a TVI, por exemplo, há naturalmente pressões e cabe sempre ao jornalista fazer o melhor trabalho possível. Eu trabalho na Sporting TV e, por isso, associam-me a ser do Sporting, mas isso não me prejudica no dia a dia. Se o Sporting ganhar ou perder não há como enganar a pessoa que está a receber noticias através de mim, ou seja, há coisas que são factos. O que muda, muitas vezes, é a forma como se comunica, por exemplo, uma derrota. Não deixas de dizer que é uma derrota, mas tens um pouco de mais sensibilidade. Em suma, a isenção depende do jornalista e acima de tudo daquilo que nós acreditamos, enquadrado no meio em que estamos, não uma forma de fugir à realidade.

Sendo um canal ligado a clube, pode dizer-se que se trata de um órgão de comunicação social ou um agente de comunicação empresarial?
É uma pergunta bastante interessante. Quando eu comecei a perceber a dinâmica do jornalismo, vi que era o que mais gostava. Mas é curioso que a segunda coisa que mais gostei no meu curso foi a parte da comunicação empresarial. Às vezes até digo que este é o estágio perfeito porque sei apresentar também o que a empresa quer, neste caso o clube. No entanto, a Sporting TV não deixa de ser um órgão de comunicação social porque não há “fantoche”, isto é, nós transmitimos a realidade, e também porque. acima de tudo. temos de cumprir todos os desígnios que os outros também têm. Se olharmos para a Record ou a Bola TV, também acabam por ser influenciados por clubes. Eu acredito mesmo que a Sporting TV seja um órgão de comunicação social porque tenho carteira de jornalista e tenho de cumprir as regras que se estabelecem como jornalista e não como uma empresa de comunicação.

Como é que aplica as diretrizes que aprendeu na Universidade Técnica de Lisboa no seu dia a dia?
Esta resposta pode ser um pouco cruel. Quando vim para a faculdade, fiquei bastante desiludida porque não havia prática. O meu curso foi demasiado teórico. Quando cheguei ao mercado de trabalho, neste caso à Sporting TV, tinha colegas com mais experiência que eu que vinham do Instituto Politécnico de Lisboa, o qual eu, sem querer, desvalorizava porque, na altura, guiava-me pela média e pensava: “Ah, a média é a alta então o curso deve ser bom”. Os meus colegas já sabiam fazer teleponto, diretos e eu não tinha formação nenhuma para jornalismo. Portanto, não posso dizer que uso muito daquilo que aprendi no curso no meu dia a dia. Contudo, não desvalorizo a faculdade porque foi lá que fiz alguns dos contactos que me ajudaram a entrar no mercado de trabalho.

Para além de coordenadora de redação, desempenha o cargo de repórter na Sporting TV. Como é fazer a cobertura de jogos de andebol? E porquê esta modalidade e não outra?
Hoje em dia não funciona assim, mas no início a alocação era feita da seguinte forma: os rapazes cobriam os jogos de futebol, eu cobria os jogos de andebol, porque era a modalidade que eu praticava, muitas vezes calhava-me o hóquei em patins porque os meus irmãos jogavam e eu percebia. O que eu mais gosto é de participar no relato dos jogos, isto é, ser repórter de pista, porque é a parte que “puxa” mais por mim. Ou seja, podes ir muito bem preparado, mas não prevês o que vai acontecer e, portanto, é a parte em que sinto mais realizada.

Quais são os seus objetivos futuros em termos profissionais?
No jornalismo só me vejo a fazer jornalismo desportivo. Se tiver de apresentar a notícia de um orçamento de estado chumbado, consigo compreender, mas sinto que não tenho gosto suficiente para passar essa informação. Eu estou bem na Sporting TV porque estou sempre “a subir”, mas considero que não é uma profissão bem paga para o estilo que vida que se leva e, portanto, o mais provável de acontecer é sair do jornalismo e seguir na área da comunicação.

Texto: Margarida Teodósio
Fotos: gentilmente cedidas pela entrevistada