A Biblioteca José Saramago, do Politécnico de Leiria, foi o espaço escolhido para celebrar o centenário do compositor Iannis Xenakis. Sob o mote “Iannis Xenakis: a música, o ritmo e o espaço”, o professor e investigador Benoît Gibson guiou, no dia 15 de novembro, a conferência, e Marco Fernandes, maestro da Orquestra Metropolitana de Lisboa, dirigiu o concerto com interpretação de peças do compositor.
A partir de imagens e sons, o evento assinalou o nascimento e percurso do compositor Iannis Xenakis. A sessão ficou as ligações da música de Xenakis aos domínios da arquitetura, da ciência e da matemática, e ao modo como estes inspiraram os conceitos de ritmo e de espaço na sua obra Persephassa, de 1969.
Fascinado pelo “aspeto musical, com a relação com a matemática, ciência, ciências da natureza e com a Grécia Antiga”, Benoît Gibson inspirou-se no trabalho de Xenakis pela sua “música diferente”, dando origem ao livro The Instrumental Music of Iannis Xenakis: Theory, Practice, Self-Borrowing. Nesse título, Gibson mostra como o artista escolhia, a partir de anteriores obras suas, materiais para construir novas composições “sem passar pelo lado teórico”. Para o professor da Universidade de Évora, Xenakis é sinal de originalidade: “Alargou horizontes e libertou a música dos constrangimentos que tinha na altura, começou-se a imaginar a música de outra forma, com base noutros critérios”.
Depois do enquadramento teórico, seguiu-se o concerto com interpretação da obra Persephassa, por seis músicos das percussões da Metropolitana. A peça, considerada “bastante agressiva” e “fisicamente muito exigente”, teve a duração de 28 minutos. Ensaiada em “contrarrelógio”, o maestro Marco Fernandes admitiu que a música não é fácil de compreender: “É um bocadinho um work in progress, pois há primeiro uma preparação individual de cada percussionista e depois uma preparação coletiva”.
Além disso, “há muito trabalho de secretária” onde se fazem contas para perceber “se os cálculos estão certos” quando todos os músicos se juntam, explica Marco Fernandes, ao mesmo tempo que afirma querer “desbloquear o conceito de música clássica”, posta “de parte no quotidiano”. Elogia, por isso, as pessoas que integram este “projeto artístico-pedagógico” constituído por professores e antigos estudantes, existindo uma comunicação igualitária, entre pares. “A forma como olhamos uns para os outros é bastante especial”, conclui o maestro.
Texto e fotos: Beatriz Conceição | Constança Vieira | Jéssica Lourenço