Pode a escola promover a cidadania cultural?

Nas palavras de
Sandrina Milhano
Docente da ESECS

O que é, para si, a cidadania cultural?
É um conceito complexo que se estrutura em torno de um direito humano fundamental de participação e envolvimento na vida cultural e criativa. Reflete importantes desafios associados à coesão social e sistemas democráticos. Inclui temas como a preservação da diversidade cultural, a criação artística enquanto veículo de liberdade de expressão, a inclusão e equidade nas artes e na cultura.

Como podem as artes promover a democracia?
Sendo a participação artística uma forma de participação social, são várias as suas ligações aos fundamentos da participação cívica, das normas e comportamentos democráticos. A prática artística influi em vários aspetos do desenvolvimento pessoal e social, nomeadamente nos processos identitários e nas pertenças, nos processos de colaboração, mediação, interação e comunicação entre pessoas e grupos, assim como na expressão e vinculação de ideias, emoções ou valores.

Tendo em conta que trabalha no âmbito da formação de professores, que valores devem os profissionais da educação promover?
Neste contexto, tendo em conta as características de universalidade do acesso à escola, destaco a necessidade de um compromisso contínuo dos professores na criação de ambientes de aprendizagem que nutram as liberdades, os valores e os direitos, incluindo os direitos culturais, através da vivência da prática artística e da cultura.

O que pode um professor fazer para promover a cidadania através das artes no seu trabalho diário?
São múltiplas as estratégias e as possibilidades de operacionalização no contexto escolar ao nível da turma que contribuem para que as crianças e jovens adquiram as múltiplas literacias que precisam de mobilizar para uma convivência plural e democrática. Quer nas abordagens específicas, quer transversais, os processos de fruição, interpretação e criação artísticos podem contribuir para conectar os alunos entre si e para promover o relacionamento interpessoal, social e intercultural. É relevante a valorização da diversidade artística e cultural local e a promoção de experiências e processos criativos de colaboração, participação, interrogação e análise potenciadores de diálogo, de pensamento crítico, de envolvimento cívico e de vivência da cidadania.

E como pode a Escola organizar-se nesse sentido?
São várias as referências que enquadram e orientam para a atuação da Escola neste sentido. No plano institucional, para além da articulação com as autarquias locais e os municípios, através do Conselho Municipal de Educação e do respetivo Plano Estratégico Educativo Municipal, as Escolas dispõem dos documentos curriculares, o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória, a Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania, o manifesto e a estratégia do Plano Nacional das Artes, o Programa de Educação Estética e Artística, a Carta do Porto Santo, os programas locais de promoção da Educação Artística, entre outros.

Consegue dar-nos um exemplo de um projeto que esteja ou já tenha sido implementado em escolas da região?
Destaco o Projeto Cultural de Escola que contempla programas culturais próprios concebidos e implementados em vários agrupamentos ou estabelecimentos de ensino da região, em parceria com as respetivas autarquias, estruturas artísticas e comunidades. Para além destes projetos que enriquecem o ambiente educativo através da promoção da cultura e das artes e da valorização da diversidade cultural e artística locais, destaco, ainda, o Projeto Artista Residente que tem permitido a agrupamentos e escolas receberem um artista nas suas instalações para apoiar a comunidade educativa no reforço de processos e práticas artísticas.

A ESECS passou a pertencer ao Clube UNESCO de Inovação e Desenvolvimento Cultural Regional. O que significa?
Concluímos no ano passado a candidatura para a criação deste Clube UNESCO, cuja recente aprovação e validação pela Comissão Nacional da UNESCO nos deixou muito satisfeitos. Os próximos passos incluem a elaboração de um plano de atividades articulado com os valores e ideais da UNESCO.

Como pode este Clube contribuir para o desenvolvimento de iniciativas na área da educação e da cidadania cultural?
Este Clube coloca a ênfase no posicionamento central da cultura nos processos de desenvolvimento pessoal e social. A perspetiva é constituir-se como um espaço de reflexão, vivência e capacitação em torno destas questões e um parceiro na valorização da diversidade de práticas artísticas, criativas e culturais desenvolvidas pelas pessoas da região.

Entrevista: Carina Subtil | Dara Rodrigues | Dayane Martins | Larissa Waite | Mariana Vilalba
Foto: Gentilmente cedida pela entrevistada