Após o sucesso da série da Netflix Monsters: A História de Lyle e Erik Menendez, a 7 de outubro deste ano a plataforma lançou um novo documentário, Irmãos Menendez, trazendo novamente à agenda um dos casos criminais mais polémicos da América. A longa-metragem oferece uma nova perspetiva sobre o evento trágico de 1989, quando os irmãos Erik e Lyle Menendez assassinaram brutalmente os seus pais José e Kitty Menendez, em Beverly Hills.
O filme mergulha profundamente nas motivações e no contexto familiar que levaram ao homicídio. Em vez de apresentar os irmãos como assassinos frios e calculistas, a narrativa pretende mostrar o principal argumento usado pela defesa: os irmãos teriam sofrido abusos sexuais por parte dos progenitores, especialmente do pai, José Menendez, uma figura de sucesso na área do entretenimento, mas autoritária e abusiva, segundo os filhos. A produção não poupa nos detalhes e utiliza depoimentos e registos de antigos julgamentos para proporcionar uma compreensão mais ampla dos acontecimentos. A abordagem usada explora, de forma crítica, o impacto do abuso e o modo como o trauma pode afetar a mente humana, especialmente num ambiente tão problemático quanto o descrito pelos irmãos Menendez.
Um dos pontos altos do documentário é a capacidade de colocar questões éticas. O espectador é levado a refletir e questionar-se se o trauma e o abuso podem explicar, ou até justificar, atos extremos. Mesmo sem uma resposta, a narrativa não minimiza a gravidade do crime cometido, mas busca equilibrar a violência com as motivações alegadas pelos irmãos.
Outro aspeto importante do documentário é o foco no papel dos media, que na época retrataram Erik e Lyle Menendez como vilões, desejosos de ficar com a herança dos pais. Este olhar sensacionalista desconsiderou todo o cenário familiar tóxico e as acusações de abuso, que são agora exploradas mais profundamente.
Após terem recebido, em 1989, sentença de prisão perpétua, os irmãos Menendez trouxeram ao documentário revelações que os tornam novamente o foco da atenção mediática norte-americana. A pressão social levou a uma revisão do processo, com procuradores a recomendar, 34 anos depois, a alteração da pena aplicada, num julgamento que acontece em dezembro.
Texto: Inês Amendoeira | Lúcia Santos | Margarida Matias | Maria Madeira