Jornalismo em tempo de pandemia

Das novas tecnologias ao teletrabalho

Até que ponto é que a crise pandémica mudou mesmo a forma de trabalhar dos jornalistas? O impacto sentiu-se de igual forma em todas as redações? No caso das novas tecnologias, por exemplo, instrumentos fundamentais para minimizar os efeitos da distância social, as opiniões convergem ao considerar que as rotinas já não dispensavam, no período pré-pandemia, as suas potencialidades.

Para Ana Matos Neves, jornalista da Lusa e correspondente em Bruxelas, as mudanças forçadas pela pandemia não exigiram grande adaptação do ponto de vista pessoal. O impacto sentiu-se mais ao nível do trabalho em equipa: “Assim que o governo belga anunciou medidas restritivas para o combate à pandemia, a delegação da Lusa em Bruxelas começou a funcionar exclusivamente em teletrabalho. Foi necessário adaptarmo-nos enquanto equipa ao facto de comunicarmos apenas por meios digitais (e-mail, WhatsApp, telefone). Acresce que tivemos de adaptar a forma como contactamos com as fontes e como acompanhamos os eventos, com recurso à tecnologia”.

Da mesma forma, Jacinto Silva Duro, jornalista do Jornal de Leiria, refere que não houve grandes mudanças na forma como o trabalho se realiza, a não ser as idas à redação, que deixaram de ser obrigatórias: “A principal alteração consistiu na substituição das reuniões físicas na redação pelo uso de meios online (Zoom, WhatsApp). Nunca tivemos um distanciamento social, o que nós tivemos, temos e todos têm é distanciamento físico”.

Jacinto Silva Duro constata que a essência do trabalho se mantém, pois continua a andar-se “com o computador, telemóvel e máquina fotográfica às costas, com horários de trabalho muito alargados e difusos”.

O teletrabalho aplica-se, também, aos jornalistas e Anselmo Crespo, subdiretor da rádio TSF, considera que a principal vantagem em tempos de confinamento e distância social consiste na “demonstração clara de que os jornalistas e as empresas de comunicação social se conseguiram adaptar a uma nova realidade, continuando a cumprir a sua principal missão – informar –, mas a partir de casa”.