Jornalismo em tempo de pandemia

Organização do trabalho e informação online

No jornal Região de Leiria, a reunião de preparação de cada edição processa-se, agora, em videoconferência. Carlos Almeida, jornalista do semanário, salienta que, depois desse momento, começa a troca de e-mails, telefonemas e mensagens via Messenger entre os jornalistas. A versão online do jornal é articulada da mesma forma, mas a um ritmo diário. As rotinas de trabalho, afirma, mantiveram-se semelhantes, embora adaptadas a um contexto de teletrabalho. Talvez se tenha notado um “maior investimento pessoal dos jornalistas, atendendo à importância de informar o público”.

O cenário é o mesmo no outro semanário da cidade do Lis. “Não houve uma grande modificação a não ser o local onde nos sentamos: no sofá de casa. De resto, continuou tudo praticamente igual, com partilha de ideias, avaliação da pertinência dos temas, troca de contactos, divisão de trabalhos, etc.”, assevera Jacinto Silva Duro.

A mudança mais significativa no Jornal de Leiria incidiu na dinâmica da informação online e daquela em formato impresso, uma vez que os profissionais mais vocacionados para a segunda tiveram de se adaptar rapidamente ao primeiro modelo. O trabalho de equipa foi fundamental numa redação constituída por oito elementos, onde as escalas de serviço apenas se processam no contexto da informação online.

“Havia jornalistas mais vocacionados para o online que tiveram de ensinar os restantes a operar nesse formato. Apenas temos escalas de serviço para o online. Cada um de nós, após os dois primeiros meses de confinamento, onde houve duplas de trabalho, tem de fazer turnos de seis horas, ao mesmo tempo que faz o trabalho normal para a edição em papel”, assegura Jacinto Silva Duro.

As rotinas de um correspondente no estrangeiro são, no entanto, diferentes e esse fator decorre, sobretudo, do meio onde se desenvolve a atividade. Em Bruxelas, por exemplo, o trabalho da delegação da Lusa “é muito rígido em função da agenda das instituições europeias, e isso não mudou”, sublinha Ana Neves. A antiga estudante do Politécnico de Leiria nota, porém, que em tempos de pandemia existe mais imprevisibilidade nessas rotinas: “Acabamos por nos organizar dia a dia e, por vezes, hora a hora, tendo em conta essa agenda, que inclui, agora, reuniões por videoconferência e conferências de imprensa à distância por meios digitais, entrevistas através de plataformas como o Zoom, ou por telefone, e reportagens em moldes semelhantes”.

As novas tecnologias possibilitam “um novo normal”, como refere Anselmo Crespo, aludindo ao facto de que nunca, como agora, “se fizeram tantas videoconferências, se trocou tantas mensagens escritas e se recorreu a tantas aplicações diferentes para coordenar o trabalho diário”.

Do ponto de vista das escalas de trabalho, na TSF, houve a “necessidade de alocar quase toda a redação a tratar um único tema, ainda que cada um na sua área”. Mas a maior alteração decorreu do teletrabalho e da preocupação em proteger a saúde dos trabalhadores. “As equipas tiveram de se habituar a trabalhar com pessoas na redação e outras em casa, com uma rotatividade muito maior. Pessoas que não editavam passaram a editar, enfim, foi necessário fazer mudanças de monta”, afirma Anselmo Crespo.