Natal em lares e centros de dia: Seniores mostram-se ativos em programas natalícios

Quatro utentes do Centro Social Paroquial de Vieira de Leiria posam para a fotografia. As duas mulheres, uma em cada ponta, seguram uma coroa de Natal nas suas mãos.

O Natal é uma das festividades mais aguardadas do ano. Neste período, os centros e lares seniores ganham uma nova atmosfera, caracterizada pela partilha e pelo convívio. Para os utentes, que, em muitos casos, vivem longe das suas famílias, o entretenimento é essencial para transformar o vazio num espaço cheio de memórias.

O início do mês de dezembro é especialmente marcado pelos preparativos dos dias natalícios. A cargo de animadores e outros funcionários que integram as instituições, a organização das tarefas é pensada para que os seniores partilhem momentos e celebrem esta altura do ano. Para além da decoração do espaço e da criação de enfeites, algumas instituições aproveitam para dar destaque à gastronomia e aos pratos tradicionais da época, de forma a criar um ambiente festivo entre toda a comunidade envolvida.

Ao sabor das tradições

A Residência Sénior O Baloiço, situada em Chiqueda, Alcobaça, procura trazer a diversidade cultural ao Natal, com a realização de uma atividade culinária, em que é dado aos utentes o desafio de criar pratos característicos de diferentes países.

Gonçalo Sousa, animador e educador social d’O Baloiço, refere que se trata de uma viagem gastronómica na mesa dos utentes, através da qual são abordados “tradições e alguns aspetos do país”, como a bandeira e o seu simbolismo, o número de habitantes, a economia e outras características de âmbito cultural, de forma a promover a aprendizagem contínua. Já foram realizadas “viagens” a Itália, Brasil e Portugal com a confeção de pizzas, brigadeiros e pastéis de nata e de Alcobaça, respetivamente. O próximo “passeio” será a França, com uma receita de crepes, evento bastante esperado tendo em conta que muitos dos utentes têm família emigrada no país, conta o animador.

Gonçalo Sousa reforça o valor educacional e cultural das atividades e da contribuição que trazem: “É uma maneira de eles [utentes] conhecerem novas coisas. No fundo, é um género de estimulação cognitiva, mas de uma forma mais leve.”

Fernanda Caseiro integra O Baloiço há um ano e foi uma das participantes do projeto. Vê a iniciativa como algo aliciante e didático e teve especial apreço pela atividade gastronómica. “Os pastéis são tão bons”, revela a utente, que não esconde o seu entusiasmo pela próxima receita. “Agora vamos fazer mais”, garante. Cremilde, residente há cinco anos, reforça a mesma opinião: “Foi uma animação muito boa.”

Em Fátima, a Aldeia Intergeracional também propõe um planeamento anual de atividades. A Estrutura Residencial para Pessoas Idosas (ERPI) pertence à Fundação da Arca da Aliança e é composta pelo Lar Residencial, com 62 utentes instalados, e por moradias assistidas no mesmo recinto, onde 14 seniores “fazem uma vida totalmente autónoma” e “têm os seus próprios automóveis, fazem a sua própria alimentação e muitos deles juntam-se até em convívios”, explica Miguel Coelho, diretor técnico da Aldeia Intergeracional.

Liliana Pereira, integrante da equipa da Aldeia Intergeracional, afirma que durante o período natalício o programa de atividades é reforçado. “Dedicamo-nos sempre mais à decoração de Natal e temos também previsto uns passeios para ver as luzes”, refere a profissional. Outra das atividades realizadas consistiu num almoço de Natal, no dia 15 de dezembro, entre os habitantes das moradias assistidas, com o auxílio dos funcionários e da equipa. Emília da Purificação, de 92 anos, ficou responsável por fazer uma sobremesa para a refeição e confia na inspiração do momento. “Vou fazer um bolo, um bolo grande. É o que calhar, ou é um pão de ló, ou é um bolo de laranja”, indica. No dia seguinte, os seniores visitaram ainda o Museu da Consolata, com o objetivo de assistir a uma exposição de presépios que eles próprios produziram.

Os utentes Teresa Rivera, Joaquim dos Santos e Amílcar Reis também se mostram felizes e interessados em envolver-se nas várias atividades preparadas pela instituição. Participam semanalmente, mas Joaquim, de momento, apresenta alguma debilidade que o impossibilita de estar presente em todas as tarefas que fazia, como a distribuir babetes e a organizar as refeições. “Sempre gostei, desde que estou aqui há cinco anos. Até já me disseram que estou lá a fazer falta”, admite o utente.

O talento não tem idade

A Associação de Bem Estar de Parceiros (ABEP) divide-se em três vertentes no apoio sénior: um Lar, com 41 utentes, um Centro de Dia, com 15, e um serviço de Apoio Domiciliário, que apoia atualmente cerca de 45 pessoas. A ABEP tem presente no seu programa anual uma festa de Natal no dia 19 de dezembro, em que os utentes realizam uma peça de teatro, declamam poesia e onde participam crianças da Associação, que lhes dedicam uma cantiga. Este ano, subiu ao palco a peça “Natal no Estábulo”, em que os seniores recriaram um presépio. Alfredo, de 89 anos, integrante do Centro de Dia, participou na festa de Natal, representando em palco a personagem do burro. “Fiz teatro em jovem, há setenta e tal anos”, admite o utente que relembra o tempo em que atuava na sua terra natal, e realça a beleza do convívio e dos festejos: “Acho bonito, mesmo bonito. Com as pessoas todas, rimos. É bom.”

Daniela Clemente, psicóloga e responsável pelo Centro de Dia da ABEP, refere que a época natalícia é uma altura do ano mais sensível para os utentes, sobretudo para os que estão distantes da família. As atividades servem como uma distração perante essa adversidade, até porque depois conseguem mostrar às famílias o que têm estado a preparar. “Os utentes andam bastante entusiasmados. Ainda hoje de manhã quando cheguei já estavam a perguntar quando é que iam ensaiar”, revela a colaboradora.

No Centro Paroquial da Vieira também se valoriza o campo das artes performativas e plásticas. A diretora técnica Ema Ribeiro explica que “o centro começou inicialmente numa sala da paróquia” e “apenas como um centro de convívio”. Ao longo do tempo, a instituição evoluiu e, depois de alguns procedimentos burocráticos, começou a fazer apoio domiciliário. Após construídas as instalações, desenvolveram uma ERPI que integra, neste momento, um centro de dia.

O centro dispõe de uma animadora sociocultural, responsável por planear as atividades da instituição, sendo que no mês de dezembro a temática é o Natal. Um dos projetos foi proposto pela Câmara Municipal da Marinha Grande e consiste na construção de coroas de Natal, com o objetivo de decorar as ruas da região, tornando mais visível aos familiares e à comunidade os trabalhos desenvolvidos pelos utentes.

Além das atividades plásticas, esta ERPI conduz uma visita a um presépio de renome localizado no concelho da Marinha Grande, construído minuciosamente por Filipe Ferreira, um artista conhecido da região. Ema Ribeiro também refere que é realizada uma visita ao Mercadinho de Natal, evento organizado anualmente pela Junta de Freguesia de Vieira de Leiria. No ano anterior o centro paroquial participava no mercado e apresentava uma banca gerida pelos utentes. No entanto, deixaram de fazer esta atividade devido a dificuldades de mobilização e autonomia dos seniores.

Para compensar os que não conseguiram estar presentes nas outras atividades, a instituição prepara uma festa de Natal com um programa mais ativo. Conjuntamente com o professor de ginástica, é elaborada uma coreografia onde os seniores são os “principais artistas”, frisa a diretora técnica. Tendo em conta que alguns dos utentes pertenciam a grupos de rancho, também foram realizadas atuações musicais de modo a “estimular essas experiências mais antigas e a transportá-las para a atualidade, para que eles continuem ativos”, conta a técnica. Olívia assumiu o papel de apresentadora do espetáculo de Natal e valoriza estas experiências. Apesar de ser uma pessoa introvertida, a idosa admite que este convívio é essencial para todos: “É muito bom para nós e aprendemos muita coisa.”

Texto: Alexandre Cordeiro | Ana Reis | Carina Silva | Mariana Gonçalves