RUN-EU: Cursos de curta duração promovem mobilidade na Europa

Grupos de estudantes estão no exterior de uma instituição de ensino superior pertencente à rede RUN-EU, sentados nos relvados circundantes.

Promover a formação e capacitar pessoas para enfrentar os desafios do futuro, desenvolver a cooperação entre países e o contacto entre culturas, são alguns objetivos da RUN-EU, a rede de universidades europeias, que o Politécnico de Leiria integra. Entre múltiplos eixos de atuação, a rede proporciona oportunidades de formação e de mobilidade no espaço europeu.

“Uma excelente oportunidade de crescer académica e pessoalmente, além de conhecer coisas novas” é como Carlos Palomino descreve a experiência de participar pela primeira vez num curso de curta duração – SAP, Short Advanced Programme – na Bélgica, na Howest University. Conheceu a RUN-EU na Escola e teve como motivação para participar a vontade de adquirir novas competências e de conhecer pessoas de diferentes países, pretendendo “aprender com diferentes perspetivas, desenvolver competências práticas e criar contactos”.

A Regional University Network (RUN-EU) é uma rede de universidades regionais e foi estabelecida em 2020. Atualmente, integra instituições de ensino superior de sete países: Portugal (Instituto Politécnico de Leiria e Instituto Politécnico do Cávado e do Ave), Espanha (Universidade de Burgos), Irlanda (Technological University of the Shannon), Bélgica (Howest University of Applied Sciences), Holanda (NHL Stenden University of Applied Sciences), Finlândia (Häme University of Applied Sciences) e Áustria (Vorarlberg University of Applied Sciences). Cofinanciada pela União Europeia, a rede tem como missão o desenvolvimento regional assente nos valores da sustentabilidade, da multiculturalidade e da inclusão.

Com mais de 100 cursos realizados na sua primeira fase, com temáticas como sustentabilidade, produção de conteúdos, inteligência artificial, turismo, valores europeus ou pensamento crítico, a rede dá a oportunidade a estudantes, professores e técnicos de participar em programas curriculares de curta duração e em atividades de desenvolvimento inter-regional. Os programas de estudo flexíveis e multidisciplinares são sempre orientados por desafios sociais o mundo real.

João dos Santos, docente da ESAD.CR e coordenador da Comunicação, Disseminação e Impacto do consórcio, afirma que esta iniciativa “reconhece o papel central que o ensino superior desempenha para assegurar o funcionamento democrático e em liberdade dos países membros, pelo contributo para o enriquecimento social e económico das regiões e pelo alcance que tem fora da Europa”. A rede envolve hoje mais de 90 mil estudantes e, no ciclo de 2024-2027, pretende continuar a investir na educação, na pesquisa, na inovação e no serviço à sociedade, na transição digital e sustentável, desenvolvendo também estruturas de governança e gestão com os alunos.

A perspetiva da organização
Sandrina Milhano, docente da ESECS e representante no Politécnico de Leiria da Academia de Formação da RUN-EU, onde coordena, junto de outras instituições parceiras, a conceção, gestão e oferta de oportunidades de aprendizagem oferecidas por esta universidade europeia. Considera como características positivas a possibilidade de conectar estudantes, professores, investigadores, colaboradores técnicos e administrativos a instituições de outros países, algo que traz “imensas mais-valias”, além da oportunidade de “conhecer outras línguas, outros modos de estar, de viver, de fazer e pensar”. Vê as oportunidades de formação e os vários tipos de mobilidade como uma “proposta interessante para os estudantes que não querem fazer um Erasmus mais prolongado”, e para quem uma a duas semanas noutro país são uma boa opção. Sandrina Milhano acredita que trabalhar nesta rede é “muito desafiante”, mas constitui uma oportunidade de aprender e partilhar experiências com os parceiros.

Sobre questões que estão a ser melhoradas, João dos Santos considera que, apesar de haver um número crescente de alunos envolvidos nas atividades da RUN-EU, há um “conhecimento desequilibrado entre parceiros relativamente à sua existência”. Explica, assim, que o Gabinete de Disseminação e Cooperação está a desenvolver várias ações, como a organização do RUN-EU Day, dedicado a mostrar à comunidade académica os projetos realizados. Em relação ao impacto na vida pessoal e profissional dos estudantes acredita que, nesta fase de transição para a idade adulta, estas participações permitem “desenvolver ferramentas emocionais, prospetivas, críticas, de agilidade e de relacionamento intercultural”.

O impacto nos participantes
Joan Torres, espanhol, de 20 anos, e a realizar Erasmus na NHL Stenden, na Holanda, conheceu o projeto por meio de colegas e amigos que já tinham participado e, quando soube que iam abrir vagas para um curso na área da Produção de Conteúdos na Bélgica, não quis perder a oportunidade. A experiência de ir para uma nova cidade e conhecer pessoas de toda a Europa foi uma das razões que o motivaram a envolver-se. Já Zoia Skydanchuk, de 19 anos, a estudar na Irlanda, descobriu a RUN-EU através de um evento universitário e ficou inspirada pelo seu comprometimento com o mundo real. Na RUN-EU aprendeu sobre temas de diversas áreas, como marketing para a Geração Z ou trabalho em equipa e resolução de problemas. Recomenda esta vivência a quem queira causar um “impacto real enquanto aprende habilidades práticas”. Também Margarida Costa, portuguesa, de 22 anos, conheceu a RUN-EU através da sua universidade. Frequentou um curso em que aprendeu sobre “tendências nos media, novos formatos e estratégias para comunicar com as gerações Z e alfa”, além de ter uma “experiência internacional e conhecer outras perspetivas sobre o futuro da comunicação”. Apesar dos desafios, Margarida recomenda a experiência, que diz ser “enriquecedora a nível pessoal e profissional”.

O projeto procura aproximar-se dos jovens e entrar nos seus círculos de interação e de socialização, usando as redes sociais como recurso ativo para dar a conhecer as oportunidades de aprendizagem que oferecem. “Temos uma estratégia renovada de comunicação e usamos muito as redes sociais e o site da RUN”, afirma Sandrina Milhano, o que implica que os estudantes estejam conectados e sigam o perfil da instituição que frequentam e o perfil da RUN-EU para perceberem as suas dinâmicas.

Grupo de pessoas, composto por professores e estudantes participantes num curso SAP, posa para uma fotografia. Atrás deles, um edifício icónico e, nas laterais, um rio.

A visão dos professores
Leonel Brites é docente na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Leiria. A participar recentemente num SAP, desenvolvido em articulação com a Howest University of Applied Sciences, na Bélgica, considera estas atividades fundamentais para abrir horizontes e criar memórias: “Daqui a vários anos pode ser difícil recordar as atividades letivas da unidade curricular A ou B, mas dificilmente se esquecem os momentos criados nestas atividades, as peripécias, os obstáculos, as pessoas, as amizades… Tudo isso amplia a experiência de viver e estar no ensino superior, para além de nos preparar melhor para um mundo cada vez mais dinâmico e agitado”. Para o docente, a interação entre escolas permite conhecer diversas culturas e pessoas, mas também ver diferentes funcionamentos e abordagens pedagógicas.

Também Susana Monteiro tem participado na preparação, organização e lecionação de vários cursos. Afirma estar “profundamente comprometida com os objetivos da aliança”, que reforça um “sentido de pertença a uma comunidade académica europeia mais ampla”. Para a docente, “estes projetos têm um impacto significativo, tanto a nível pessoal como académico e profissional. Para além das competências específicas de cada programa, os cursos promovem competências como a comunicação intercultural, a cocriação, o trabalho em equipas multiculturais e multilinguísticas, a capacidade de adaptação (a novas pessoas, a novos hábitos, tradições e culturas) e o pensamento crítico e reflexivo”. A professora acrescenta os impactos no reforço de uma identidade europeia, defendendo o desenvolvimento de “um sentimento de união e de identificação com os valores europeus”.

Susana Monteiro reconhece alguns “fatores desmotivadores” da participação dos alunos como a necessidade de falar inglês, a dificuldade em “acomodar” e compatibilizar esta formação com as suas obrigações académicas, assim como, “talvez, uma visão demasiado formal da educação, que faz com que muitos estudantes não valorizem suficientemente o impacto e a mais-valia que este tipo de experiências podem ter na sua formação”. A docente defende que “o conceito de uma “universidade europeia” não é imediatamente claro para todos, exigindo um esforço adicional de divulgação, em especial junto dos estudantes, pelo menos aqueles que não estão tão envolvidos em projetos internacionais”.

Embaixadores e participantes do Student Council
A RUN-EU tem os seus próprios embaixadores e os alunos que pretendem sê-lo, passam por um Short Advanced Programme (SAP) sobre o funcionamento da RUN-EU, sobre marketing e partilha das iniciativas da organização. Após a formação, têm a responsabilidade de criar planos de ação e medidas para atrair estudantes a participarem nas oportunidades da RUN-EU. Uma das embaixadoras, Daniela Pimentel, decidiu candidatar-se a esta função quando viu o anúncio do SAP nas redes sociais. Ao perceber que no seu campus, em Peniche, não havia muita divulgação, tem tentado “ajudar mais estudantes a conhecerem estas iniciativas e a terem experiências memoráveis”. Já participou em vários projetos, mas o que considera mais marcante foi o primeiro, na Hungria: “Quem somos nós? Mapeando a identidade do RUN-EU-er”. Apesar de receosa por ser a primeira vez a sair do país sozinha, ao conhecer outros participantes percebeu que esta universidade é uma verdadeira comunidade. Considera a experiência enriquecedora, a nível pessoal e profissional, e recomenda-a a todos os estudantes, “dos mais aventureiros aos mais tímidos”. Daniela conclui com um “spoiler alert: de certeza que vão querer repetir!”.

Como membro do Student Council (Conselho de Estudantes), Marco Pavão dá apoio na recolha de fotografias e vídeos para as redes sociais. Além da função de divulgação da RUN-EU, os membros do Student Council também orientam os alunos participantes nas mobilidades internacionais e abordam questões a melhorar, como bolsas e outras facilidades. Para poder integrar o Student Council é necessário ter participado numa mobilidade, o que aconteceu com Marco que, após um SAP e a participação num projeto do Fundo de Apoio Social ao Estudante (FASE), foi convidado a participar, e decidiu inscrever-se. Acredita que as pessoas, através destes projetos, possam “aprender bastante e desenvolver capacidades”, além de se divertirem, explorarem o local onde estão e criarem conexões, algo que é incentivado pelo SAP além das aulas.

Texto e mapa: Daniela Rodrigues | Joaquim Faustino | Raquel Filipe | Samuel Ribas