O Akadémicos entrevistou quatro jornalistas e tentou perceber de que forma é que os últimos três meses de crise sanitária influenciaram o setor de informação. Olhares de quem trabalha em contexto regional, nacional e internacional.
Até ao início da atual crise sanitária, as reflexões sobre o estado do jornalismo apresentavam um ponto mais ou menos consensual: o jornalismo está em mudança, já partiu do seu antigo porto seguro, mas ninguém sabe concretamente para onde vai. Se as previsões em relação ao futuro do jornalismo são muitas (novas narrativas e fontes de financiamento, mais imagem, novos dispositivos de comunicação, etc.), o certo é que o prazo de validade desta ideia de procura de um novo porto seguro ainda não expirou e os seus pilares continuam válidos.
Esta temática, que vem monopolizando a atenção dos demais agentes do setor da informação, cruzou-se, nos últimos três meses, com uma outra questão que até pode influenciar a procura da estabilidade futura: o impacto que a pandemia da Covid-19 vem exercendo sobre o jornalismo e as suas rotinas noticiosas.
Em Portugal, como no resto do mundo, os jornais, os sítios noticiosos, as televisões e as rádios reduziram a presença de jornalistas nas redações para cumprir as regras de distanciamento social. Os jornalistas têm saído menos para a rua, equacionando-se os trabalhos com maior ponderação. Evitar o contacto presencial com as fontes de informação implica, no caso da rádio ou da televisão, uma menor qualidade do áudio e da imagem e dificulta a interação.
Não havendo contacto direto e físico com as fontes, a possibilidade de aprofundar os assuntos diminui. E, provavelmente, a qualidade da informação apurada também. No limite, obriga a uma mais atenta verificação da informação por parte dos jornalistas. Por outro lado, assistiu-se a um aumento do ritmo de trabalho e da produção de conteúdos. Não há dúvida de que entre o teletrabalho e a precaridade laboral circulam outras tantas questões que afetam, atualmente, os jornalistas e o mundo da informação.