De norte a sul, estudantes investem em projetos de comunicação

Jovem estudante de comunicação fala ao microfone num estúdio de rádio. Tem auscultadores, cabelo comprido e veste uma camisola azul escura.

Jornais, rádios, podcasts e magazines académicos nasceram e mantêm-se há anos por todo o país, em várias instituições de ensino superior. Com origem na vontade dos estudantes em terem experiências próximas das que encontrarão no futuro profissional, os projetos académicos continuam a ser um espaço onde se desenvolvem muitas competências. Nesta edição n.º 100, o Akadémicos foi conhecer algumas iniciativas.

A academia é um lugar de ideias, mas também de muita concretização. Partindo de desafios e com recursos e apoio das instituições, os estudantes mobilizam-se para criar plataformas onde exploram diferentes formatos: texto, imagem e voz. Com diferentes modelos de funcionamento, o objetivo é treinar e desenvolver competências com impacto em várias áreas, mas particularmente relevantes para futuros profissionais de comunicação.

Uma viagem que começa no norte

Na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, surgiu em 2013 o Grande Ecrã, um podcast feito por um grupo de estudantes do curso de Ciências da Comunicação, onde se faz a cobertura de várias cerimónias de entrega de prémios do mundo do cinema.

Aqui encontramos jovens à procura de melhorar: “Temos mais atenção à maneira como falamos e aos
sons que se fazem ouvir nas gravações, como o som dos cotovelos”, afirma João Jesus, membro da equipa. Os processos envolvidos na construção do podcast são vistos como oportunidades para descobrir obstáculos e aprender a ultrapassá-los. Para Carolina Bastos, também membro do projeto Grande Ecrã, aprender a escrever para a rádio também é muito importante: “Ajuda-nos imenso, muitos de nós queremos seguir rádio. É mesmo diferente quando lemos e quando falamos”, explica a estudante.

Além das competências técnicas, também são desenvolvidas outras capacidades importantes para o bom funcionamento do grupo, como a gestão do trabalho em equipa, um desafio sempre presente.

O Grande Ecrã existe há dez anos e devido à pandemia Covid-19 sofreu repercussões, o que se revelou um desafio para os estudantes, mas também uma oportunidade para atualizar os suportes. O programa está integrado no portal Jornalismo Porto Net (JPN). A editora do portal desafiou os estudantes a voltar com uma ‘nova cara’. O interesse dos universitários em manter este tipo de projetos ativo é notório. Mesmo com o surgimento de obstáculos que os obrigam a praticar novas habilidades, a experiência dos estudantes que passam pelo Grande Ecrã é positiva, visto que é outra ferramenta de aprendizagem para além das aulas.

Para Bruna Jardim, estagiária no JPN, o projeto constitui um meio importante para tratar assuntos que podem não ter lugar noutros espaços. A estudante explica que “os jornais universitários permitem uma abordagem mais jovem dos temas e isso é muito enriquecedor, uma vez que é visto de maneira diferente, por uma pessoa mais velha”. Para além desta mais-valia, Bruna Jardim explica que a sua experiência com o JPN lhe deu uma rotina e métodos de trabalho, de que também irá precisar no futuro.

Outro projeto que integra estudantes universitários da academia do Porto é o Jornal Universitário do
Porto
(JUP)
, criado pelo núcleo de jornalismo académico da cidade. Foi fundado em 1987, sendo um dos jornais universitários mais antigos do país. A sua génese foi motivada pela luta pela democracia e pela liberdade, para instalar uma voz ativa dos jovens na sociedade. O diretor do JUP, Tiago Oliveira, não teve dúvidas quanto ao motivo da sua participação no projeto: “Eu não entrei aqui no Jornal Universitário do Porto para ser diretor, eu entrei porque quero ser jornalista”, explica. É um jornal pré-organizado, mantendo-se com a mesma estrutura desde a sua fundação até aos dias de hoje. Tiago Oliveira aponta que, mesmo com uma boa organização, também encontram desafios ao longo do caminho. A prová-lo está uma nova adversidade: a dificuldade em identificar as necessidades de consumo de informação por parte da sociedade atual. O diretor destaca também os benefícios de uma participação ativa no jornal. “Eu digo muitas vezes que eu não chegaria até aqui, nem estaria preparado para o mundo do trabalho, se não tivesse uma formação académica e uma formação complementar, que permitem sair da zona de conforto e entrar no mundo real”, relata Tiago Oliveira. Sendo um produto para o qual contribuem estudantes de várias áreas, o diretor considera que o relacionamento com outras pessoas de diversas licenciaturas e mestrados faz com que se complementem uns aos outros, tanto na forma de construção de textos como no exercício da sua atividade. “Os jornais académicos são de grande importância pois há um contacto com o mundo real que a universidade não nos dá”, conclui Tiago Oliveira.